Existem várias razões para a existência da série sobre Santos Dumont da HBO. Mas uma coisa é fato, sem a concorrência entre os diversos serviços de streaming – a sobretudo da Netflix – em alta, seria mais difícil a série ganhar a luz do dia.
Sem contar que 2019 foi um ano muito positivo para a HBO no que diz a números e audiência e embora a sua principal série, Game of Thrones, tenha decepcionado em seu desfecho, não podemos nos esquecer que o canal veio com séries maravilhosas como Euphoria, a última temporada de Veep, Barry e Watchmen.
Neste cenário, não é exagero dizer que a série sobre Santos Dumont chegou no momento certo.
A produção é muito caprichada, nota-se o cuidado com a reconstituição da época e por ter locações tanto no Brasil quanto na França, vemos uma direção de arte que vai além da beleza, mas com o retrato histórico de uma época importante, que foi o final do século XIX e início do século XX.
Era um período de grandes mudanças para a sociedade, como a 2ª Revolução Industrial e invenções que mudaram paradigmas até hoje, como o telefone e a luz elétrica.
Na Europa, era o período da Belle Epoque, onde não haviam guerras por lá e a Paris era retratada de forma boêmia, sobretudo com a presença do Moulin Rouge (sim, a casa noturna do filme com a Nicole Kidman).
Mas e no Brasil? Por aqui também tínhamos um período de mudanças sociais, sobretudo com a transição entre Império e República, além da Abolição da Escravidão,
E o que isso tem a ver com a nossa série? Tudo! Nada foi deixado de lado e tudo isso casa com a trama do nosso protagonista, Alberto Santos Dumont, mostrando desde a infância como o garoto sonhador no interior de Minas Gerais, até os aeroclubes e salões de Paris.
Uma coisa que chama muito a atenção de quem vê a série é a montagem, pois os produtores optaram por uma narrativa não-linear. Em uma cena temos um jantar em família na infância, no ano de 1984, por exemplo e na cena seguinte, temos os testes em Paris já no século XX.
E isso é um problema? Sim e não. De fato, o espectador não vai ficar preso em apenas um período histórico e as transições são feitas com elegância, mas em alguns momentos fica difícil se envolver com uma determinada cena, pois no momento seguinte estamos em outro período histórico.
Este não é o único problema de Santos Dumont: ele sempre foi retratado como uma pessoa focada e que pensava fora da caixa, mas aqui temos algo que muitas biografias hollywoodianas têm: o maniqueísmo no tratamento dos personagens, sobretudo os ditos “vilões”.
O espectador é condicionado a torcer por Dumont, mas também é induzido a torcer contra aqueles que vão contra suas ideias, como seus irmãos ou colegas de escola ou trabalho.
Mas isso não quer dizer que o espectador não possa dar uma chance para a série, muito pelo contrário, além de uma grande história e de uma grande pessoa estar presente na tela, pode fazer com que o público corra atrás de outras mídias e conheça a história por trás de uma das personalidades mais importantes da história do Brasil e se a série de fato for um sucesso, pode fazer com que séries de outras personalidades sejam produzidas pela própria HBO ou por outros canais.
A minissérie terá 6 episódios e promete contar mais detalhes da vida de Santos Dumont, como a polêmica com os irmãos Wright e a questão de sua sexualidade.
Gostar ou não da série ou do próprio Santos Dumont é um direito de cada um, mas ver um produto brasileiro e com essa produção milionária é algo que dá orgulho. E agradeça ao Dumont por termos o transporte aéreo tão presente hoje em dia e cada vez mais rápido.