Já faz um tempo que ouvimos dizer que as séries andam melhores do que os filmes e na maioria dos casos essa afirmação não está errada: o cinema está cada vez mais dependente de suas franquias, apostando na nostalgia e no que é certo.
Em contrapartida, as séries de TV estão ousando mais, se arriscando mais e trazendo temas melhores do que os filmes para o cinema.
Existem diversas razões para que isso aconteça, mas as principais delas têm a ver com finanças.
O ingresso do cinema está caríssimo e em tempos de crise, o espectador não quer arriscar seu dinheiro suado para algo que ele não tem certeza, isso explica o sucesso dos filmes de super-heróis e da Disney, por exemplo.
E mesmo os custos de produção aumentaram. É difícil para um estúdio investir uma quantia como 100 milhões para um filme, por exemplo, sem a certeza do retorno.
Isso não é uma ciência exata, considerando que muitos filmes de franquia ou reboots fracassam, como As Panteras ou Fênix Negra e alguns filmes originais se tornam sucesso, como Um Lugar Silencioso ou Bacurau, mas é muito dinheiro para que os estúdios se arrisquem.
Isso existiu muito em 2019, embora os filmes de franquia e reboots tenham dominado o mercado, não dá para negar que o ano foi recheado de filmes autorais e originais. E isso também tem explicações.
Além do desgaste e cansaço por parte do público – o que explica alguns fracassos retumbantes – o nome de muitos atores, diretores e roteiristas renomados em projetos menores possibilitou esses filmes chegarem ao grande público, como Parasita, Judy, O Farol, Era Uma Vez em Hollywood, entre muitos outros.
Além do mais, muitos atores ou diretores que já ganharam milhões em franquias de sucesso agora podem trabalhar em projetos mais alternativos e com o nome deles nesses filmes, podem chamar público, como a Scarlett Johansson em História de um Casamento e Jojo Rabbit, Chris Evans no Entre Facas e Segredos (dirigido e escrito por Rian Johnson, diretor de Star Wars- Os Últimos Jedi), além de Adam Driver, também em História de um Casamento.
E os motivos não param por aí: com o advento do streaming e um serviço como a Netflix tendo se tornado tão popular, muitos realizadores preferem lançar seus filmes nesta plataforma do que no cinema, já que o espectador já está assinando o serviço e está mais acessível, em detrimento da tela do cinema, onde a pessoa tem que sair de casa, pegar trânsito ou usar transporte público, além de todos os custos e o risco da violência.
Isso possibilitou o sucesso de filmes como Bird Box, por exemplo, mas a mentalidade da Netflix mudou com o sucesso de público e crítica de Roma, vencedor de 3 Oscar e que possibilitou à gigante do streaming investir pesado em grandes filmes para 2019.
Tivemos grandes filmes, mas foram 4 que estão ganhando a simpatia do público, crítica e premiações: O Irlandês (e a história deste filme da Netflix com o Scorsese daria um texto próprio), o já citado História de um Casamento, Meu Nome é Dolemite e Dois Papas.
Para o público brasileiro, três filmes se tornaram hit da temporada: Turma da Mônica – Laços, Bacurau e A Vida Invisível, representante brasileiro para o Oscar 2020.
O sucesso de Turma da Mônica é evidente, mas o de Bacurau e A Vida Invisível tem uma explicação: é mais uma prova de resistência por parte do público com os cortes na cultura e de um Estado que não valoriza o cinema brasileiro.
Não importa se é um filme hollywoodiano, europeu, asiático ou brasileiro. O que importa é que a temporada foi recheada de grandes filmes, grandes obras e que vão se tornar clássicas e referência. Assim como grandes séries do ano, como Chernobyl, Olhos que Condenam, Fleabag, Watchmen, entre muitas outras.
E quem ganha é sempre o espectador.