Os Últimos Czares – A polêmica série sobre a família Romanov

Depois do lançamento bombástico da HBO com a série Chernobyl foi a vez da Netflix se aventurar em terrenos russos. Ela tentou bastante, mas não chegou nem perto de ter nas mãos um sucesso como Chernobyl, muito por conta de pura falta de atenção (acredite se quiser, a líder do mercado de streaming deu um belo tiro no pé).

Os Últimos Czares é um série original da Netflix com um total de seis episódios cada, e retrata o caótico período da dinastia Romanov, que começa quando Nicolau II assume o trono.

Documentário e dramatização

O diferencial da série está na maneira como a história é contada, em uma mistura de dramatização e explicações de historiadores especialistas no assunto. Mas nada comparado com o que já estamos acostumados a ver em documentários tradicionais de canais como o History Channel, onde o foco maior se encontra na narração dos historiadores e a dramatização é um recurso secundário.

Aqui a ambientação, o cenário e as roupas tem tudo para competir com uma série como The Crown, por exemplo. A fotografia é de tirar o fôlego, e as roupas deixam qualquer um de queixo caído (aqui estou relevando alguns tropeços de figurino).

A decisão de intercalar entre a dramatização e a narração dos historiadores traz um ar mais leve aos episódios, apesar das temáticas sombrias (afinal, todos sabemos como essa história terminou), fazendo com que maratonar a série seja algo natural e nada cansativo, ainda que os episódios sejam longos.

O período turbulento

Quando Nicolau II assume o trono em 1894, ainda claramente despreparado e imaturo para lidar com as pressões políticas, ele decide resistir às ideias mais modernas de governo e logo decide que a autocracia é o caminho certo a se seguir.

Seu casamento com Alexandra, por quem era verdadeiramente apaixonado, é o começo de uma longa luta para conseguir um herdeiro para a dinastia Romanov. Após o nascimento de cinco meninas, finalmente nasce Alexei, herdeiro legítimo do trono. Mas o que parecia uma salvação acaba sendo mais um sofrimento para a família real, pois o caçula logo é diagnosticado com uma doença incurável: a hemofilia.

Em meio a decisões erradas, guerras fadadas ao fracasso (o envolvimento da Rússia na guerra contra o Japão), população faminta e soldados desacreditados, vemos o surgimento da revolução com os Bolcheviques e Mencheviques, enquanto a família real se isola em uma bolha de luxo.

O personagem mais excêntrico de todos…

Não é possível falar da família Romanov sem falar dele: Grigori Rasputin.

Na série, acompanhamos o monge excêntrico desde suas origens em um pequeno vilarejo, até seu lugar de confiança ao lado da imperatriz, quase como médico particular de Alexei, e também um dos pivôs do desgaste político da família imperial para com a população e os rebeldes.

A polêmica com a Rússia

Assim como quando a HBO lançou Chernobyl, os russos também cresceram os olhos para cima da produção de Os Últimos Czares… mas acabou não agradando.

Nós sabemos que dificilmente os russos irão gostar de algo sobre a história do país deles, e que foi criado por americanos, mas desta vez há de se dar o devido crédito aos camaradas da Rússia; há alguns momentos em que a série parece uma grande reprodução de uma página do Wikipédia.

Um dos grandes tropeços da série é quando é mostrada a Praça Vermelha em 1905 (como diz no letreiro da imagem), mas não dá pra deixar de notar o mausoléu de Lênin na cena. O tal do mausoléu só foi construído em 1930.

O Kremlin pintado em vermelho berrante, o erro ao referir-se às princesas de Montenegro como Princesas Negras, e a edição feita no episódio da coroação de Nicolau II e Alexandra, com cenas de pessoas sendo pisoteadas nos campos – fazendo parecer com que as duas coisas aconteceram no mesmo dia – foram apenas alguns dos deslizes históricos cometidos em Os Últimos Czares.

Além desses erros, muitos russos reviraram os olho nas cenas de amor entre Alexandra e Nicolau, pois aquele tipo de demonstração de afeto e carinho não faz parte da cultura deles, então tudo pareceu muito exagerado.

Por que eu tô assistindo isso mesmo hein?

A verdade é que não dá para saber qual é o objetivo da série; se é apresentar a família Romanov para quem nunca ouviu falar deles, se é para falar sobre Rasputin e sua influência na queda da família imperial ou mostrar todo o contexto histórico (ainda que cheio de erros).

No fim das contas, a série fala sobre tudo e não se aprofunda em nada, ou seja, se você quer informações históricas corretas, é melhor procurar em outra fonte e ir conferir Os Últimos Czares apenas por desencargo de consciência e pela fotografia, que é realmente impecável.

Nerd: Beatriz Napoli

Devoradora de livros, publicitária apaixonada, tem dois pés esquerdos e furtividade 0 para assaltar a geladeira de madrugada. Se apaixona por personagens fictícios com muita facilidade, mas não tem dinheiro para pagar o psiquiatra que obviamente precisa.

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