Nos anos 2000 vivia a geração que jogava na raça

Em 2000, o console PlayStation 2 foi lançado e foi com ele que tive meu primeiro contato com games. Me lembro como se fosse ontem (infelizmente) a cena da mansão em Resident Evil e também aquele horrível cutscene no parque de diversões em Silent Hill.

Estamos nos anos 2000, somos seis pessoas – 4 primos homens e um tio molecão – competindo pelo único controle do PS2. Eu fico ali no meio, mais observando do que realmente jogando, porque todo caçula da família sabe que não é nada fácil ganhar uma disputa dessas. Mas eu acompanho atentamente todas as horas de jogatina nas quais, muitíssimas vezes, ficamos empacados em uma fase em particular porque simplesmente não sabemos o que deveria ser feito em seguida. Porque, pasmem, jovens. Está tudo em inglês!

Poucas pessoas têm o domínio da língua inglesa. Quem joga, sabe que nem sequer legendas em português tem – no máximo tem a opção de espanhol, e ainda assim nem todo mundo entende a língua. As cutscenes são puladas, perdemos boa parte da essência da história por não entender nada do que acontece na tela.

Vez ou outra pegamos um dicionários e anotamos as palavras mais frequentes, como objectives (objetivo), health (saúde, PV) – essa é particularmente importante em Resident Evil – dodge (esquivar), ammo (munição), entre outras. Mas é isso. Mais do que tudo, é preciso entender o contexto do que se desenrola na tela para tentar adivinhar o que faria sentido acontecer depois. Não duvido que o resultado do esforço da interpretação seja capaz de criar uma outra história nada a ver com a que estamos jogando. Aliás, talvez por isso nos surpreendemos bem mais com as reviravoltas na trama quando elas acontecem.

E o que dizer dos tutoriais? Os botões de comando básico são apresentados e conseguimos pular, socar e recarregar sem problemas – até porque, a grande maioria dos jogos têm como padrão esses botões para tais comandos, mas se o game introduz uma mecânica um pouco mais complicada, é tudo na base da tentativa e erro. A gente só aperta todos os botões e vê o que acontece para dDicas e Truques para Playstation - nº 50 - Marcço 2003 _Post 1epois dizer “ok, da próxima vez, não vou jogar um objeto no meio da horda de zumbis se estou querendo passar despercebido”.

Mas com certeza o que mais frustra os jovens jogadores é ficar andando em círculos numa mesma fase sem saber o que fazer.

Aí recorremos a um último recurso, a salvação de gamers que não aguentam mais ficar empacados: As revistas de truques e dicas, que podemos encontrar em qualquer banca de jornal. É a nossa versão de trapaça.

Se você já assistiu Toy Story 2, pode ter uma pequena noção de qual é nossa felicidade quando compramos a revista PlayStation e olhamos a parte de detonados se prestar atenção na reação do Rex, quando ele encontra uma revista revelando como derrotar o terrível vilão do Buzzlightyear: Zurg.

Agora, em 2018, eu realmente acredito que o que fazia os jogos serem ainda mais divertidos antigamente, eram essas dificuldades que enfrentamos, porque não tínhamos um celular ou computador ao alcance da mão, e muito menos os grandes professores da internet (Google e Youtube), à nossa disposição para tirarmos dúvidas tão pequenas. Em 2000, a internet ainda era discada e poucas eram as pessoas que se dedicavam a criar conteúdo na web.

Então a gente ia mesmo era na raça, sem saber inglês e sem sequer ler as instruções ou tutoriais. Nessa época, as dificuldades tornavam as jogatinas muito mais intensas e um tanto quanto frustrantes também. E, gente, ERA BOM DEMAIS.

Nerd: Beatriz Napoli

Devoradora de livros, publicitária apaixonada, tem dois pés esquerdos e furtividade 0 para assaltar a geladeira de madrugada. Se apaixona por personagens fictícios com muita facilidade, mas não tem dinheiro para pagar o psiquiatra que obviamente precisa.

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