Mulheres e a luta por espaço nos jogos online

No começo de 2018, eu não podia ouvir falar de League of Legends que já fazia cara feia. Sabia que era um MOBA (multiplayer online battle arena) aí, mas nunca liguei muito. Até que comecei a jogar (pra uma entrevista de emprego, acredite se quiser), e acabei gostando do tal joguinho, porque é como diz aquele ditado: “jamais diga que dessa água não bebereis, porque vai que beberei e vai que gosteis”.

Mas este texto não é sobre minha entrada no mundo dos jogos online, e sim sobre uma coisa que venho pensando há algum tempo nesse universo: Times femininos de jogos online.

Eu estava assistindo um programa de TV há algum tempo (é, eu ainda faço isso de vez em quando) e entrevistaram uma das coordenadoras da arena de jogos online em um evento, onde ela dizia haver conversado com alguns times de MOBA para organizarem apenas times femininos para competir entre eles.

O motivo é que a mulher disputa um espaço dominado por homens no mundo online.

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Será que essa é a melhor maneira de disputar esse espaço e mostrar que somos boas também?

Nós sabemos que, biologicamente, mulheres e homens são diferentes, e naturalmente temos desempenhos distintos e algumas atividades. Homens têm ossos mais densos, capacidade pulmonar maior e resistência diferente, então faz sentido que, em esportes que exigem algum tipo de envolvimento físico, se separe os dois sexos para que não haja desigualdade na hora de competir.

Mas quando falamos de competição de jogos online, estamos falando de um esporte onde todos ficam sentados, apertando teclas e clicando nos botões do mouse. E não estou desmerecendo nem os pró players, nem os que jogam casualmente, porque sei que os jogos pedem por muita estratégia, preparo físico e, principalmente mental.

Como é o treinamento de um jogador profissional?

Isso pode variar de acordo com o time. A maioria deles ficam instalados em game houses e têm uma rotina de preparo físico, que envolvem alongamentos, academia, hidroginástica,  para evitar que o corpo seja prejudicado por ficar na mesma posição por muito tempo.

Além disso, eles têm uma alimentação balanceada e constantes sessões com psicólogos que ou moram na game house ou vão para lá de vez em quando.

No geral, não é uma rotina pesada de treinamento físico, porque o esporte não exige muito desse desempenho.

Então se não há diferença no treinamento, então por que separar os times por sexo?

É uma tentativa genuína de conseguir abrir à força um espaço para nós onde durante muito tempo fomos excluídas, apesar de 60% das pessoas que jogam multiplayer online (através de console), segundo a Pesquisa Game Brasil.

Times mistos são uma opção e trazem o benefício de dar mais visibilidade para as mulheres que estão nesse meio, ainda mais porque – agora que o cenário de e-sports vem crescendo no Brasil, cada vez mais pessoas estão acompanhando o competitivo.

Mulheres podem entrar em times ‘masculinos’

A verdade é que já existem algumas mulheres em times que antes tinham apenas homens, mas além de sofrerem assédio,  elas são muito mais cobradas por resultados e desempenho. Porque uma mulher não pode ser boa no joguinho, né?

Um exemplo disso foi o que aconteceu com a sul-coreana Geguri, jogadora de Overwatch, que teve que provar em uma transmissão ao vivo, com as mãos no teclado, que ela não estava trapaceando. Ela só era muito boa mesmo.

Geguri teve que 'provar' que não estava trapaceando

Geguri teve que ‘provar’ que não estava trapaceando

Mesmo com o espaço aberto para nós, o que ainda precisa mudar é a mentalidade de todo mundo. Dos criadores dos jogos, dos treinadores e dos jogadores.

A verdade é que ter que criar um time somente de mulheres para que possamos ter uma chance nesse meio, pode ser muito bom e muito ruim ao mesmo tempo.

Seria bom porque abriria muito mais oportunidade para garotas que querem entrar no competitivo, mas por outro lado geraria a velha (e nada boa) competição entre os dois lados na discussão que é de praxe em qualquer esporte ‘esporte ___________ masculino é melhor do que esporte __________ feminino. Todo mundo sabe disso`além de dar mais a impressão de que não podemos jogar em times mistos, porque não somos tão boas quanto eles.

E no fim das contas, essa é mais uma luta que deve ser adicionada à lista das mulheres. Seja para termos nosso time feminino ou para termos espaço em grandes times dominados por homens.

Segue a luta.

Nerd: Beatriz Napoli

Devoradora de livros, publicitária apaixonada, tem dois pés esquerdos e furtividade 0 para assaltar a geladeira de madrugada. Se apaixona por personagens fictícios com muita facilidade, mas não tem dinheiro para pagar o psiquiatra que obviamente precisa.

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