Madame X: A experimentação musical que dá origem a um álbum totalmente fora da caixa

“Madame X é uma agente secreta. Viajando ao redor do mundo. Trocando de identidades. Lutando por liberdade. Trazendo luz à lugares escuros. Ela é uma dançarina. Uma mestre. Uma chefe de estado. Uma dona de casa. Uma equestre. Uma prisioneira. Uma estudante. Uma mãe. Uma filha. Uma professora. Uma freira. Uma cantora. Uma santa. Uma prostituta. O espiã na casa do amor. Eu sou Madame X.”


Quando pensamos em Madonna a primeira palavra que nos vem à mente é versatilidade. A cada álbum, premiação, entrevista, turnê ou um simples lançamento, uma nova mulher nos é apresentada, mas não uma mulher qualquer. Uma mulher que tem o talento intrínseco de saber trocar de pele sem abandonar sua essência. Uma mulher que pode e quer ser várias, mas que continua eternamente única. Permanecendo sempre ela, a própria. A Madonna. A rainha do pop. 

E com Madame X essas múltiplas personalidades perduram, só que de maneira ainda mais acentuadas. Agora, todo o conceito do álbum se define em cima disso, tendo Madonna um respaldo maior para sua constante transmutação, apesar de tal fator não lhe poupar das críticas, na maioria das vezes apenas destrutivas. Contudo, para a dona de hits como Erotica (1992), Like a Prayer (1989), Express Yourself (1989), dentre milhares de outros clássicos de cunho polêmico, o que é mais uma crítica na lista de todas que já recebeu desde o começo de sua carreira, não é mesmo?

Justamente por não se abalar com a opinião alheia, ela nos presenteia com um álbum diferente de tudo que já fez, mas ao mesmo tempo com referências de seu passado musical. Madame X, que leva esse nome devido ao apelido dado por uma professora de dança que ela teve aos 19 anos (segundo a profissional, todas essas mudanças de identidade tornavam Madonna um grande mistério pra ela), é uma aposta experimental da estrela do pop. Misturando desde o seu tradicional pop eletrônico, com funk, samba, reggae, música clássica, rap, até o moderno reggaeton, tem de tudo um pouco nas 15 faixas excêntricas de seu novo disco. 

“Vou lhe dar um novo nome: Madame X. Todos os dias você vem à escola e eu não a reconheço. Todos os dias, você muda sua identidade. Você é um mistério para mim.” (Martha Graham, antiga professora de dança de Madonna)

Influenciada por sua experiência morando em Portugal (ela mudou-se para Lisboa em 2017 com o filho David, que pretende se tornar jogador de futebol), Madame X também bebe da fonte cultural portuguesa ao trazer elementos do fado, estilo musical português, reinventar a música da Blaya, uma cantora brasileira radicada em Portugal, na sua parceria de “Faz Gostoso” com a Anitta, e principalmente, ao misturar o inglês com o português em várias faixas do álbum, mostrando uma Madonna que também sabe falar e cantar em nosso idioma (com muita segurança, por sinal). 

Algo que chama atenção em seu novo álbum é o fato de parecer trilha sonora de um filme, nos fazendo imaginar várias cenas passando na nossa frente, cada uma contando uma história diferente, enquanto Madame X toca no fundo embalando todas as sequências da narrativa que vamos construindo ao longo do disco.

Resgate da material girl

Sobre Madonna ser uma artista que busca a inovação em todo trabalho que se propõe a fazer, todo mundo sabe. Só que dessa vez essa inovação anda de mãos dadas com o início de sua carreira, trazendo aquela garota extremamente talentosa, mas ainda inexperiente, dos anos 80 e 90, de volta à cultura pop. Diversas faixas de Madame X tem uma pegada retrô que ficaram marcadas por essas épocas. Com destaque para I Don´t Search I Find que apresenta similaridade sonora com Vogue, como se fosse uma adaptação modernizada dessa música que virou hit em 1990 e Looking For Mercy que levanta a mesma temática de fé e apelo a Deus que Like a Prayer já tinha feito com muita ousadia e repercussão lá nos final dos anos 80. Seja semelhanças de ritmo ou de conteúdo, a maioria das músicas de Madame X nos remetem por variados motivos a sucessos consagrados da carreira da rainha do pop. 

Muse, Queen e Rocky Horror Picture Show à la Madonna

Duas músicas do álbum merecem ser mencionadas; The Killers Who Are Partying, que podia ser facilmente uma faixa de algum disco do Muse devido à sua sonoridade muito parecida com a que a banda inglesa faz. O que pode ser explicado pelo fato do som deles também trazer essa atmosfera de trilha sonora de cinema com experimentações pouco convencionais. E Dark Ballet que é uma espécie de Bohemian Rhapsody no estilo Madonna, trazendo elementos típicos do ballet clássico misturados com a música eletrônica e com muitas variações rítmicas durante a música. Além do Queen, outra referência que nos vem à mente ao ouvir essa faixa é o musical trash dos anos 70, The Rocky Horror Picture Show, como se fosse um novo número musical do Dr. Frank Furter. 

Uma artista comercial com um álbum nada comercial

O mais interessante de Madame X é que é um álbum de uma cantora pop que foi tida como comercial desde o início de sua carreira e que todo mundo conhece — pois mesmo quem só ouviu falar dela superficialmente ainda assim sabe de sua existência e do seu título de rainha do pop— tem uma voz inconfundível e é dona de hits bem populares para o grande público, porém surpreendeu a todos (como sempre) lançando um álbum totalmente fora da caixa. 

Com Madame X Madonna prova que pode ser uma artista pop, mas também uma artista mais alternativa, indie, conceitual (como cada um preferir chamar) quando der na telha e nem por isso, ser vista como elitizada, já que embora o som dela possa estar menos comercial (com exceções das faixas com o Maluma e com a Anitta), as letras continuam sendo bem no estilo Madonna de ser, ou seja, recheadas de críticas sociais contundentes e com bastante apelo às massas. 

Afinal, ela é madame X. Pode ser intermináveis versões de si mesma se assim desejar. 



Nerd: Fabiana Zau

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