Lolita não é sobre o que você pensa

‘’Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade. Meu pecado, minha alma. Lo-li-ta: a ponta da língua faz uma viagem de três passos pelo céu da boca abaixo e, no terceiro, bate nos dentes. Lo. Li. Ta.’’

Lolita é um dos livros mais influentes e reconhecidos na cultura literária, sempre orbitando entre as listas de livros mais importantes da língua inglesa, ou o mais célebre, também povoa entre um dos livros mais controversos da história, devido ao tipo de enredo amoroso que é descrito e, pela minha opinião, um dos livros que mais foi mal compreendido pela maioria de seus leitores, deixando-se confundir entre a descrição prolixa e pomposa de Humbert Humbert, seu narrador. lol1 O livro conta a história de um homem europeu de 40 anos, que vai para os Estados Unidos após se separar de sua mulher, acabando por alugar um quarto na casa de Charlotte Haze, uma viúva e mãe solteira de Dolores Haze, uma garota de 12 anos – uma ninfeta, segundo Humbert. Já preso, escreve para descrever sua história obsessiva e erótica que viveu com Lolita. Narrações em primeira pessoa costumam ser perigosas, dado que isso significa que o leitor só consegue obter o pensamento do personagem central, sua forma de ver a história se desenrolar e suas próprias interpretações, tornando-o facilmente em um narrador não confiável, cuja história pode ser deturpada facilmente, afinal, é a visão dele, somente dele e restrita a ele. Isso é usado constantemente para confundir, manipular e conduzir o leitor para uma má interpretação do conto, e é isso que ocorre em Lolita. Grande parte dos leitores deixou-se ser conduzido pela história do apaixonado Humbert, um professor de literatura com seus 40 e tantos anos, sendo constantemente seduzido e manipulado por Dolores Haze – ou melhor, Lolita, uma garota de apenas 12 anos de idade, que classifica como uma ninfeta (uma adolescente com a delicadeza de uma jovem, e a sensualidade de uma mulher). O pulo do gato de Lolita é ver atrás do que Humbert está lhe contando. Lembrando que se trata de um narrador não confiável, a visão dele se trata de uma visão doentia de um homem que acredita ser possível uma garota de 12 anos, ter a sensualidade de uma mulher, que aparentemente lhe deu permissão para abusar de seu corpo.  Vladimir Nabokov já foi muito claro em diversas entrevistas que concedeu, alegando que Humbert era ‘’um miserável, vaidoso e pedófilo que morreu na prisão por assassinato e violação estatutária.’’ É muito fácil ser manipulado por Humbert: seu rico vocabulário lhe descreve como um verdadeiro romântico, um apaixonado e conduzido para as armadilhas de Dolores – uma mera criança de 12 anos de idade. Ele acaba casando com a mãe dela para lhe manter por perto, porém, Charlotte morre em um acidente de carro, deixando-a órfã e a mercê de Humbert, sendo aí que o romance engata. Para seu narrador, é totalmente plausível uma criança de 12 anos ser mais sedutora, sagaz e inteligente do que qualquer mulher que já habitou as ficções, tendo inicio as projeções e devaneios de um pedófilo, que enganou milhares de leitores para crerem que ele só queria fazer sua amada ‘’feliz’’. Lolita e Dolores Haze são duas pessoas diferentes. Dolores é uma garota de 12 anos de idade, sem mãe, que acaba nas mãos de padrasto que nunca conheceu direito, abusando psicologicamente e sexualmente, não tendo mais ninguém para recorrer. Lolita nunca existiu, é apenas um reflexo da mente doentia de Humbert, uma persona imposta a Dolores. Desde os anos 50, seus leitores deixaram que uma história de abuso infantil fosse jogada por debaixo do tapete, mascarando por uma história de amor, algo que até hoje, é muito fácil ser visto e até dito, como merecido. Lolita é um livro que deve ser lido, mas acima de tudo, deve ser lido de forma crítica, não se trata de uma leitura superficial, cujo leitor mais desatento ou desonesto facilmente será deixado levar por seu narrador pedófilo, deixando perder sua mensagem central, focada em como crianças e adolescentes estão à mercê de predadores, que mascarão suas intenções por uma fachada de amor, enquanto a realidade, é que existe alguém sendo corrompido e abusado.

OBS: Esse texto foi inspirado pelo artigo publicado no Medium pela ‘’Deixa de Banca’’, altamente recomendado para uma analise mais profunda. https://medium.com/@amandavenicio/lolita-nao-e-uma-historia-de-amor-da922af7dfbe#.v91o8abwe

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Nerd: André Arrais

Pseudo-Cult, apreciador de café, ama quadrinhos como ninguém, rato de biblioteca, gamer casual, não sabendo tirar selfie desde sempre e andando na contra mão dos gosto populares. Finge é cheio de testosterona, mas vive rodeado de gatos. Esse é o meu design.

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