“IT – Capítulo 2” funciona mais para fãs de terror (e da franquia)

IT – A Coisa foi um sucesso inesperado de 2017. O filme teve uma campanha de marketing tímida, o elenco não era lá muito conhecido, o livro do Stephen King não é um de seus mais celebrados e o telefilme de 1990 não é muito lembrado hoje.

Mas a adaptação acabou se tornando um hit da temporada e um dos filmes de terror mais rentáveis da história (em um gênero que já é rentável por si só).

Podemos justificar o sucesso de IT, principalmente, por causa de 3 pontos:

  1. o filme é muito bom e se sustenta sozinho;
  2. o gênero terror está tão em alta em Hollywood quanto os filmes de super-heróis
  3. o filme lembra muito a série Stranger Things (que também é outro hit)

Neste cenário e considerando que o livro se passa em duas linhas temporais, não demorou muito para que o estúdio logo anunciasse a sua continuação, com o nome de IT – Capítulo 2.

O filme segue a estrutura do livro, que é misturar passado e presente em um espaço de 27 anos onde as então crianças lutaram, juntas, contra o palhaço Pennywise, que aterroriza as crianças de uma pequena cidade.

O primeiro filme foi focado unicamente nas crianças no ano de 1989 e agora foca nos adultos, embora as crianças apareçam em flashbacks e para compor o elenco adulto, a produção investiu em nomes como Jessica Chastain, James McAvoy (ambos vistos recentemente em X-Men: Fênix Negra), Bill Hader (da série Barry), além de Bill Skarsgard como o Pennywise, entre outros.

No elenco infantil, Sophia Lillis (da série Sharp Objects), Finn Wolfhard (o Mike de Stranger Things) e Jack Dylan Grazer (de Shazam) voltam aos seus papéis.

O diretor Andy Muschietti e o roteirista Gary Dauberman estão de volta aos seus postos e algumas qualidades do primeiro filme continuam presentes, como a interação e química do elenco, os dilemas pessoais de cada um, além do terror que existe em cada um deles.

Nota-se que a produção aumentou e vemos isso nos grandes planos, grandes sequências e na sua bela fotografia, caprichando nos tons de vermelho e no clima esfuziante, sobretudo nas tomadas externas.

Mas a produção “aumentando” não significa necessariamente melhora técnica, muito pelo contrário: o filme erra quando investe em criaturas em CGI que destoam do restante do filme e provocam mais risada do que sustos no espectador (embora exista um uso excessivo de jumpscares), o que é outro problema. Há muito mais piadinhas que nem deveriam ser chamadas de alívio cômico, pois a piada não funciona em um momento de tensão, nem o espectador fica tenso pela quebra da cena.

E isso acontece várias vezes no filme.

O Pennywise de Bill está muito mais a vontade é muito mais crível enquanto uma maquiagem real e menos no festival de computação gráfica, principalmente no terceiro ato.

Mas o que mais incomoda o espectador ao assistir IT – Capítulo 2 é a sua longa duração. São quase 3 horas e o filme não precisava disso: perde-se muito tempo na transição de um núcleo a outro, de um personagem a outro e isso não é apenas falha de roteiro, mas de montagem também.

Se algumas composições são apresentadas de forma elegante, sobretudo envolvendo a personagem Beverly (Sophia Lillis jovem e Jessica Chastain adulta), a maior parte do filme são cenas muito estendidas e cortes secos que incomodam a quem assiste.

Se teve alguma coisa que poderia justificar a longa duração do filme, poderia ser o prólogo ou primeiro ato para apresentar os personagens em suas vidas civis. O filme passa quase batido por isso e poderia explorar mais, até pela empatia que o público poderia ter – a relação abusiva de Beverly com seu marido violento dura segundos em tela.

IT – Capítulo 2 funciona melhor para os fãs do primeiro filme e do terror. O filme depende muito disso. Stephen King está em alta (ele até aparece em uma ponta, um momento Stan Lee dele) e logo voltará aos cinemas com Doutor Sono.

Este filme tem maior orçamento, mas é menos interessante e com menos coração do que o original.

Deveriam seguir o conselho dos nossos avós, de que menos é mais.

Nerd: Raphael Brito

Não importa se o filme, série, game, livro e hq são clássicos ou lançamentos, o que importa é apreciá-los. Todas as formas de cultura são válidas e um eterno apaixonado pela cultura pop.

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