Elenco de “Divaldo – O Mensageiro da paz” fala sobre a mensagem de união que o filme veio trazer

Antes de compartilhar com vocês a entrevista que fiz com o elenco de Divaldo, preciso reafirmar algo que disse a eles: fiquei muito impressionado com o filme e com a atuação de todos. Foram simplesmente maravilhosos e eu chorei o filme todo!

Depois de participar da cabine de imprensa e chorar feito criança, tive a oportunidade de falar com grande parte do elenco: Bruno Garcia (Divaldo Fase 3), Regiane Alves (Joanna De Angelis), Ghilherme Lobo (Divaldo Fase 2), Laila Garin (Dona Ana) e Marcos Veras (O Obsessor).

Como foi a reação ao receber o convite para o filme e ao ler o roteiro? Já tinham alguma ligação ou conhecimento sobre o espiritismo?

Laila: Eu não sou espírita, já conhecia Divaldo Franco porque sou baiana e ele mesmo fora do espiritismo é uma força humana de muita relevância em Salvador, e no país também, então o conhecia desde criança. Mas não tinha nenhuma ligação, só conhecia ele como uma figura importante da Bahia. Depois de mais velha, com os sofrimentos da vida, conheci um vídeo dele muito bonito falando sobre o amor, sobre amar e mandava pra geral dizendo “Tá sofrendo? Tá sentindo desanimado? Ouve isso aqui”. Eu pensava então aquilo era lindo e que poder com as palavras que aquele homem tinha, que retórica linda, que mensagem. Tem um negócio muito muito bonito, apesar da gente saber que o sincretismo tem razões históricas, tem essa beleza então nunca tive preconceitos, sempre fui muito aberta. O convite veio “séculos” depois através de Marcela Altberg (produtora de elenco) e eu fiquei interessada pela relevância da obra desse homem, também por Clóvis que é um diretor conhecido e muito porque ele queria que eu fizesse as três fases. Eu achei que pudesse ser um prato bom para uma atriz fazer esse trabalho de envelhecimento. Fiquei muito atraída e apavorada ao mesmo tempo.

Regiane: o meu veio do além (risos). O Divaldo viu uma foto que o Clóvis levou junto de outras atrizes e aí ele (Divaldo) viu e disse que eu tinha que fazer aquele papel. Perguntou qual era o meu nome e falou “então, é ela que tem que fazer”. Foi em um momento muito difícil da minha vida pessoal e na hora eu falei “Meu Deus, será?”. Eu não conhecia muito sobre o Divaldo, eu tinha ouvido falar o nome, da Joanna também não. O Clóvis ainda tentou mostrar uma outra foto com cabelo diferente pra ele e ele respondeu “já falei que é ela” e depois que eu li o roteiro. Até o Clóvis me perguntou “Você acredita? Você é espírita?”, mas eu acho que sempre tem algum recado do mundo espiritual pra mim, porque o próprio Divaldo falou isso pra gente; que os artistas já tem uma mediunidade, não tem como não ter né? Porque tem coisa que a gente faz, e eu acho vocês sentem também né (apontando para Laila e Ghilherme), que a gente se pergunta “como é que eu fiz isso?”. É mais forte que a gente. Depois eu li o roteiro e adorei, comecei a ler os livros, fomos na Mansão do Caminho, eu e o Gui fomos conhecer o Divaldo, fomos em palestras, abracei a causa mesmo. Passamos por vários processos porque as pessoas ficam dizendo “Você vai fazer a Joana né?” e dá um medo porque tem que ter um compromisso e respeito né. Eu fui criada na igreja católica, mas eu adoro religião e é um papo que a gente vai fundo. Pessoalmente, eu brinco com isso, eu acho que ganhei muito mais com o filme do que o filme ganhou comigo. Era um resgate muito espiritual da minha vida, da fé, do momento que eu estava vivendo, do fortalecimento que isso me deu. Engraçado isso. Vou contar uma coisa muito louca: até hoje a Joana vem muito na minha cabeça com um sentimento de gratidão, em momentos que eu “tô” parada. Porque foi quando a gente acabou de ver o filme, e veio essa sensação de que a gente tinha que estar junto, tinha que realizar esse trabalho todo mundo junto, a equipe ficou super unida e a gente se fala sempre, a gente admira muito ao outro, então é um trabalho como ator mas também uma missão de ter feito esse trabalho, falar sobre amor e falar sobre fé, perdão e generosidade neste momento que estamos passando no nosso país. Chegar um filme que fala sobre isso é perfeito.

Ghilherme: É legal isso que você falou (referindo-se a Regiane), dessa sensibilidade, dessa mediunidade do ator, porque na época eu estava fazendo uma peça que era completamente diferente do personagem do Divaldo. Era um jovem drogado, homofóbico, completamente o oposto. Eu já tinha começado a ensaiar para o filme, eu fui fazer a última sessão desse espetáculo e eu passei muito mal no final da peça, coisa que nunca tinha acontecido. Mas eu acho que a gente estava nessa sensibilidade né, nesse ampliar sensorial.

Regiane: a equipe inteira né? A equipe inteira ficou doente, o diretor de fotografia teve tersol, a assistente de direção ficou sem voz, eu fiquei doente. Não tem como você não mexer nessa sensibilidade, você está mexendo ali com forças maiores. Se alguém tinha dúvidas, deixou de ter.

Tietando a Regiane antes da entrevista

Eu comentei com a Regiane antes da entrevista, que achei a mensagem do filme muito humana e não tanto religiosa, fala sobre o amor. Talvez até quem não acredite em algo, não seja um cristão ou tenha qualquer outra religião consegue entender essa mensagem. Como vocês enxergam que este filme pode ajudar neste momento que estamos tão divididos?

Regiane: eu acho que às vezes a gente entra naquela vibe do mal, do reclamar, às vezes não temos algo e ficamos reclamando, reclamando. Acho que a gente tem que trocar a frequência sabe? Tem uma passagem do texto que fala “Se você abrir portas, ele vai entrar.”, quando o Divaldo indaga porque a Joana não pode ajudá-lo. E eu falo “Isso é seu, é livre-arbítrio. Depende de você, aonde você vibra, qual é o seu lugar vibratório?”. Claro que a gente não consegue vibrar na mesma frequência o tempo inteiro. Mas se a gente pegar esse filme que tem 1h:40min, aí a gente tá falando sobre o amor, de um cara que superou, que passou dificuldades, você já muda sua forma de pensar. Eu faço yoga há 20 anos, é uma filosofia de vida, porque é muito a busca do equilíbrio, da paz. É um filme que em uma hora toca essas pessoas de alguma forma, que fará diferença.

Ghilherme: Tem exemplos de tolerância e intolerância religiosa e as consequências de uma intolerância, as consequências de uma tolerância e o poder transformador da presença ou ausência da tolerância, que pode se estender a várias coisas. Tanto essa polarização política que a gente tá vendo, religiosa, até mesmo respeito com as diversidades e ao próximo. Eu acho interessante esse gênero que está crescendo agora no Brasil do cinema religioso por uma questão de representatividade. Eu aprendi a importância disso em um outro trabalho que fiz agora há pouco, porque eu nunca tinha parado para pensar não é importante: para um homem branco não falta representatividade. E também não acho que falte representatividade para a religião, porém do cinema nacional é algo novo e acho que filmes com esse potencial, não meramente panfletário e mostrar “aqui, olha como a religião é legal, venha e siga-nos” e sim muito mais um debate, evidentemente sobre a doutrina, mas também sobre os aspectos benéficos da doutrina e não simplesmente uma obra dogmática “caga-regra”.

Marcos: É sobre uma história de um cara muito interessante que tem uma história de vida muito interessante. O Clóvis mesmo hoje, o nosso diretor, falou que podia ser um padre, podia ser um pastor, podia ser a história de um advogado, podia ser qualquer religião. Não é um filme que quer catequizar ninguém, doutrinar ninguém, muito pelo contrário acho; é um filme para todas as religiões, pra quem acredita em Deus, para quem não acredita. É um filme que fala da relação que a gente tá vivendo aqui e agora. É vida, esse papo que eu tô tendo aqui agora com você, o filme fala disso também.

Bruno: Até porque eu nem considero o espiritismo uma religião, eu vejo como a sua origem sendo, mas é uma doutrina filosófica. Com certeza, mas o diferencial que não seria a mesma coisa se fosse um budista, que é uma religião que eu também admiro bastante, eu sou um admirador de algumas religiões de matriz africana que são belíssimas, tem uma sabedoria intrínseca maravilhosa que inclusive é bastante admirada pelo Divaldo, não à toa – ele é baiano. Eu não considero que o espiritismo é uma religião e sim uma filosofia, eu sou um grande admirador da filosofia espírita justamente porque ela deixa portas abertas para as outras religiões, não há dogmas em relação a ‘eu tenho a minha verdade e ela é diferente da sua e se você não não comunga da minha verdade, você não é bom’. A gente tá vivendo isso no Brasil agora, isso é essa tragédia porque as pessoas que falam essas barbaridades em nome de Jesus, não entenderam nada da palavra de Jesus. Existem pastores respeitáveis, mas a gente tá vivendo um momento em que existem muitos pastores evangélicos, por exemplo, que não estão interessados em espalhar o bem e o amor entre as pessoas, que se utilizam da fé das pessoas pra tirarem delas recursos materiais que não tem nada a ver com a filosofia cristã. Então eu gosto muito desse filme porque ele toca nesse lugar que é o ecumênico, não é um filme sobre religião, é um filme sobre espiritualidade.

Algo que me atraiu muito foi que finalmente temos um filme falando sobre alguém que está vivo! Como vocês enxergam isso?

Laila: Você vê que a obra dele não é para pessoas espíritas. A obra dele é isso que a gente falou do amor que transcende a religião, a obra dele é para todos. E então é relevante, as pessoas tem que conhecer, não importa se você é motivado pelo espiritismo, pelo candomblé, pelo evangelho segundo “X”. Se o que te inspira te faz realizar obras como esse homem, tanto faz.

Regiane: Uma vez eu fiz uma peça sobre a Sônia Mamede, que foi uma grande comediante, e as pessoas não lembram. A gente apaga, a gente perdeu um museu lá no Rio que nem sabe quando vai voltar, tem um pouco isso de valorizar, de cultivar o que a gente tem. Então quando a pessoa está viva e você consegue falar sobre ela, eu acho genial. É uma pena que ala vá embora assim tão rápido da nossa memória, não temos muito essa cultura de manter e valorizar o que é nosso. Achei muito bom.

Eu também pude falar por alguns minutos depois com Marcos Veras e Bruno Garcia e aproveitei pra fazer mais algumas perguntas.

Um obsessor desses bicho!

Como foi pra você fazer esse papel? Pessoalmente eu ainda o vinculava muito ao humor e quando vi o seu personagem fiquei impressionado, principalmente na cena que vocês se “resolvem”. Como foi receber esse convite e você ficou emocionado logo de cara?

Marcos: Sim, já fiquei tocado desde o início quando eu li o roteiro, primeiro porque – como artista – é um super presente fazer um personagem onde você pode colocar para fora sentimentos que são humanos como ódio, inveja, vingança, prepotência, preconceito, tudo isso que o ser humano de alguma forma tem, mas que o filtro social e que o amor não deixam. Então sentimentos que querem ser protagonistas e a gente o tempo inteiro luta contra eles. Então é um personagem muito rico e eu tenho muito orgulho de fazer humor, acho muito difícil fazer humor mas não é o primeiro personagem que eu faço mais tenso, mais dramático. Eu fiz o Filho Eterno que é um personagem super denso, fiz o “Entrando Numa Roubada” com André Moraes também que era um pastor evangélico mau-caráter, então eu sempre busco na profissão passear pelos gêneros. Agora o humor, como é um gênero também muito querido pelo brasileiro e a gente produz muito disso, muita comédia, ainda bem que eu acho que eu sei fazer, então eu trabalho com isso também. O obsessor é um personagem muito rico, personagem que perturba o Divaldo durante 40 anos a vida dele. É uma história muito interessante a do Divaldo e a relação dele com esse obsessor. Imagina você indo se formar, você nos melhores momentos da tua vida com a tua família, aparece alguém pra dizer “Eu vou te derrubar, eu vou te prejudicar, eu vou te humilhar”. Isso deve ter sido infernal na vida do Divaldo, então é um personagem que mostra essa luta entre o bem e o mal onde todos nós temos né?

Isso é muito importante porque mostra que qualquer um pode conseguir chegar nesse ponto. Porque todo mundo tem a imagem que ele é o que ele é e sempre foi assim.

Marcos: Sim, você vê que no filme tem todos os perrengues, os percalços que Divaldo passa. Tem muita dificuldade de entender inclusive aquilo que ele sente, entender a sensibilidade dele, entender qual é o significado da vida dele. Tem gente que descobre cedo e gente que passa vida inteira tentando entender “o que é que eu estou fazendo aqui na Terra?”. Eu acho que o filme também pode ajudar a responder algumas perguntas, me ajudou muito em relação à morte por exemplo. Eu tive perdas na família, então o filme trouxe para mim algumas respostas, alguns questionamentos, algum conforto. Tem muitos elementos positivos para as pessoas.

Você é uma pessoa espiritualizada? Qual foi o impacto pra você ao receber o convite pra interpretar o protagonista?

Bruno: Eu sou espiritualista, a despeito de não ter nenhuma religião praticante. Realmente não sou ligado a nenhuma religião, mas tenho fé nos mistérios da humanidade e sou um grande admirador dos fenômenos psíquicos. Já há algum tempo que me interesso por esse tipo de assunto, eu tinha uma leve ideia de como se deu o espiritismo desde Allan Kardec, pouquinho da história do Chico Xavier e conheci há pouco a história do Divaldo. Estava em plena, ainda estou na verdade, junto com a minha esposa Dominique Magalhães, fazendo um trabalho que é da lavra dela, que envolve uma pesquisa sobre cultura Celta. Durante o ano em que nós estávamos fazendo algumas viagens por países da Europa fazendo coleta de informações sobre essa cultura, me aparece o convite Divaldo Franco vindo da Marcela Altberg, que é nossa produtora de elenco, de uma mulher muito curiosa. Porque eles estavam procurando um ator para fazer a terceira fase do Divaldo e a Marcela liga para o Clóvis dizendo que teve uma visão, que ela me viu como o ator que deveria fazer e quando esse convite chega para mim eu acho uma coincidência muito interessante porque Allan Kardec era o espírito de um druida celta. Já daí há uma conexão muito poderosa que me fez mergulhar completamente no trabalho. É muito desafiador, porque você interpretar alguém que não só está vivo como representa muito para uma gama muito grande de pessoas, uma pessoa pública, viva, então toda essa liberdade que o intérprete tem quando vai fazer um personagem que saiu da cabeça de um autor ele fica um pouco mais limitado, porque você tá ali fazendo alguém que as pessoas conhecem e alguém que vai ver você fazendo ele. Imagina um personagem sentar na plateia para assistir você interpretar ele mesmo. Foram muitos desafios mas tudo incrivelmente conectado, como se não bastasse dois ou três meses depois de concluir as filmagens, eu sou convidado para interpretar Jesus na Paixão de Cristo na Nova Paixão do Recife no Marco Zero, que é a minha cidade natal, aonde eu vou reencontrar Carlos Carvalho, Paulo de Castro, pessoas que fazem parte da minha vida artística desde criança, então foi um ano muito especial.

Mais uma “coincidência” pra você, meu nome é Carlos Carvalho também.

Bruno: Mas olha só! Mais uma. Aliás, coincidência não existem. Isso tudo pra responder como foi. Foi uma experiência muito, muito forte, cheia de conexões espirituais acontecendo e também que vieram acontecer, como foi o caso de interpretar Jesus. Porque os estudos estão sempre cruzando esses personagens, Jesus também tem uma importância muito grande para nossa pesquisa, uma vez que há muitos indícios de uma parte da vida de Jesus que a gente não conhece, que não estão nos escritos. Tem uma coisa ou outra nos Evangelhos Apócrifos, que não são considerados porque não estão na Bíblia, mas são interessantes. Inclusive como são muito mais antigos do que os textos que foram usados para fazer a Bíblia, que foi montada 300 anos depois de Cristo, então eu sou mais focado em Jesus do que exatamente no cristianismo. E isso tudo tem a ver com as pesquisas que a gente vem fazendo.

Queria agradecer muito a atenção de cada um dos atores, foi um prazer imenso poder falar sobre uma mensagem tão bonita e necessária para o mundo. E um agradecimento especial à Renata Cajado, da Atômica, que foi extremamente atenciosa e providenciou tudo pra que isso acontecesse.

Nerd: Carlos AVE César

Apaixonado por Criatividade & Inovação! Desde pequeno sempre gostei de fazer listas de filmes que tinha assistido, debater teorias e opinar sobre tudo. Em 2012 criei uma Fan Page de GOT, uns malucos botaram fé no que eu falava 1 ano depois montei um site de cultura nerd. Hoje divido meu tempo criando conteúdo para o Universo42 e estratégias de crescimento para a SKY Brasil.

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