Distrito 9: 10 anos depois

Após o sucesso e reconhecimento com a trilogia Senhor dos Anéis, o diretor e produtor Peter Jackson estava no auge em Hollywood. Também dirigiu o sucesso King Kong em 2005 e embora não seja nem de longe marcante como a trilogia do Um Anel, foi muito bem de bilheteria e ganhou 3 Oscar técnicos.

Neste cenário, havia uma grande expectativa em relação ao seu novo trabalho e a resposta veio com dois projetos para o ano de 2009. Um como diretor e outro como produtor.

Um Olhar do Paraíso, dirigido por ele foi um grande fracasso de bilheteria, uma decepção para muitos e não emplacou na temporada de premiações, mas neste mesmo ano era lançado um filme de ficção científica, passado na África do Sul, que chegou sem fazer muito barulho, mas que logo se tornou um hit da temporada.

Assim nascia o grande Distrito 9.

O filme teve um orçamento de 30 milhões de dólares (valor considerado baixo para uma ficção científica), teve uma campanha de marketing tímida, mas se tornou um sucesso de público (faturou 210 milhões no mundo inteiro), de crítica (90% de aprovação no Rotten Tomatoes) e também foi presença nas premiações, recebendo 4 indicações ao Oscar: Efeitos Especiais, Roteiro Adaptado, Montagem e Filme.

Mas, afinal, porque um filme tão modesto como este se tornou um clássico e lembrado até os dias de hoje?

Distrito 9 se passa em um cenário distópico onde uma nave alienígena sobrevoa Johanesburgo, na África do Sul, mas estes seres vivem em guetos na cidade, segregados dos humanos e à margem da sociedade.

Neste cenário o cientista Wikus (Sharlto Copley, excelente no papel!) é infectado por uma substância alienígena, seu braço ganha características análogas aos seres de outro mundo, mas ao invés de sua equipe ajudá-lo a se recuperar, fazem experimentos em seu braço. Ele resiste, foge, mas logo o tratam como um foragido do sistema.

Quem dirige e escreve o filme é o então estreante Neill Blomkamp. Ele dirigiria mais dois longas de ficção, que também abordariam a questão da desigualdade, mas sem atingir o sucesso e patamar deste filme aqui: Elysium e Chappie.

Não são filmes ruins, há uma boa intenção envolvida, mas o problema é que Hollywood pressiona Neill para realizar um novo Distrito 9 e repetir o sucesso de 2009.

Mas neste filme, Neill faz tudo certo. A história é envolvente, é impossível não torcer para o protagonista em sua jornada. A narrativa é quase documental, inclusive com depoimentos “reais” de civis e o roteiro consegue manter o interesse em sua trama até o desfecho.

Mas uma coisa que fica muito marcada para quem assiste Distrito 9 são as metáforas sobre vários assuntos, inclusive sobre nosso comportamento. O filme não envelheceu nem um pouco, muito pelo contrário, está assustadoramente atual.

O fato de se passar na África do Sul, por exemplo, não é em vão: os alienígenas segregados dos humanos é uma grande crítica ao Apartheid, regime que segregava os negros dos brancos, que durou por muitos anos.

O filme também aproveita para criticar a xenofobia (alienígenas são tratados como desdém e preconceito), manipulação da mídia e governo (inventam uma história que o protagonista fez sexo com um alienígena), corrupção (há um interesse de desvio de milhões), além de como o ser humano usa a tecnologia, seja a favor ou contra ele.

Mas mesmo quem não entender essas metáforas, não há problema nenhum: vai encontrar um grande filme de ficção científica, com grandes cenas de ação e que mesmo com um orçamento modesto, não faz feio perante aos blockbusters.

Sem contar a atuação magistral de Sharlto Copley, também um quase estreante nas telas. Ele retrata todo o sentimento de desespero e injustiça de seu personagem onde se apresenta como um homem derrotado e cansado pelo sistema um uma performance cheia de camadas.

Foi quase um crime ele ter sido ignorado ao Oscar de Melhor Ator, sendo que o filme foi lembrado em outras categorias.

Distrito 9 é a simetria perfeita entre técnica, atuações roteiro e crítica social. Um filme como poucos e um marco cinematográfico.

Nerd: Raphael Brito

Não importa se o filme, série, game, livro e hq são clássicos ou lançamentos, o que importa é apreciá-los. Todas as formas de cultura são válidas e um eterno apaixonado pela cultura pop.

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