Crítica: Maria e João, o Conto das Bruxas – um Novo Olhar

Chega aos cinemas nacionais o filme Maria e João – o Conto das Bruxas, uma história de horror, suspense e fantasia. Todos conhecemos inúmeros contos de fadas e histórias macabras e de fantasia, sendo que uma das mais clássicas é justamente sobre os irmãos João e Maria e a bruxa da floresta, publicada pelos Irmãos Grimm em 1812 . Já houveram várias adaptações e versões do conto para as telas e esta é mais uma. Porém, o atrativo desta vez é o teor mais sombrio e um foco maior na irmã, ao mesmo tempo que tenta ser bem fiel ao conto original, e talvez por isso que inverteram os nomes no título para colocar o nome da Maria primeiro.

Os irmãos deveriam ter a mesma idade – 12 anos, mas como mencionado acima, a Maria recebe mais destaque, e portanto, desta vez ela tem 16 anos e João tem 8 anos, para ilustrar melhor este peso de ter que cuidar do irmão e ser um rito de passagem para se tornar uma adulta, crescer como pessoa. Uma diferença que vemos nessa recontagem, é que o pai deles já faleceu e a mãe está enlouquecendo, ameaçando matá-los se não forem embora. Ao mesmo tempo que parece fazer isso como uma ameaça para afugentá-los antes que realmente os ataque, por estar perdendo a sanidade, também parece que os culpa pela morte do pai e por não ter mais condições de cuidar e alimentar eles.

Em meio à floresta, sem comida ou abrigo.

A parte sobre estarem desesperados para conseguir comida e para sobreviver se manteve fiel e é o que os compele a adentrar na floresta sem um rumo certo, apenas uma direção para onde devem ir. Não apenas alteraram a idade do menino, mas a personalidade para ficar de acordo, e foi bem utilizada, fazendo com que tome ações, tenha atitudes e reações compatíveis com uma criança da idade (neste ponto o personagem foi bem trabalhado). Já a garota, se sente responsável pelo irmão e tendo que cuidar dele constantemente, o que acaba impedindo que ela tome seu próprio rumo e foque em seu desenvolvimento.

Casa da bruxa com um ar mais sombrio

Em relação à bruxa e sua casa, não ilustraram como uma casa feita literalmente de doces e tortas, mas como uma casa normal com uma abundância surreal de comida, parecendo uma grande ceia na mesa sempre. O que torna mais “real” e sombria, pois é toda escura e meio assustadora, mais condizente com a abordagem sinistra que escolheram. Mas o grande diferencial é a interação deles com a bruxa e como fica a relação com a Maria. Ela chega a ensinar a menina diversas coisas antes de tentar se livrar do garoto, instigando a curiosidade da Maria, ao mesmo tempo que a jovem tem pesadelos periódicos.

Maria lendo livro e aprendendo sobre ingredientes e poções

Mudaram como a história se desenrola e como é o desfecho com a bruxa, e foi interessante e plausível o contexto e motivação utilizados, focados na Maria. A trilha sonora desde o começo até o fim contribuindo bastante para o clima sombrio e ficaram boas, mas o grande destaque fica com o visual, que realmente está excelente e impactante. Apesar do ritmo meio lento, recompensa no desenvolvimento da história e com seus elementos, mostrando não só um encontro com uma bruxa, mas também sobre o crescimento e desenvolvimento de uma pessoa.

Será que o que mais nos importamos e amamos, não estariam nos prendendo e impedindo de seguirmos nosso rumo e progredir, para nos tornar as pessoas que deveríamos ou pretendíamos ser? Uma reflexão e analogia de que às vezes é preciso abrir mão do que amamos para podermos continuar nossa trilha, mas não significa que deva ser de forma negativa ou má. Como um todo, o filme surpreendeu, pois inicialmente não haviam muitas espectativas, por se tratar de “apenas mais uma adaptação” de um conto de fadas, mas com elementos inesperados e mudanças na abordagem da história, acabou agradando e prendendo a atenção. Para os fãs do gênero, recomendo assistirem e boa sessão!

Nerd: Guilherme Vares

Formado em Ciências da Computação e Pós em Jogos Digitais, aspirante à Game Designer, tendo Rpg e boardgames injetados diretamente na veia, adepto de jogos em geral e voraz consumidor de livros, séries e filmes.

Share This Post On