Crítica “Entre Facas e Segredos” – Uma deliciosa comédia de suspense

Muitos dizem que os filmes considerados de médio orçamento estão perdendo o espaço na tela do cinema, pois aqueles filmes de franquia, de orçamento milionário levam multidões aos cinemas, assim como muitos filmes de terror e os filmes considerados de baixo orçamento não precisam de muito para fazer sucesso.

Mas no meio do caminho existe o médio orçamento, que são aqueles filmes que têm um valor de produção, embora não sejam exatamente um blockbuster.

Até um tempo atrás – antes de as franquias dominarem o mercado – esse tipo de filme era muito procurado, principalmente se tivessem grandes astros em seu elenco e as pessoas viam o filme por causa daquele ator ou atriz.

E é justamente aí que entra um dos charmes de Entre Facas e Segredos.

Se este filme tivesse sido lançado nos anos 80 ou 90, provavelmente seria um arrasa-quarteirão onde o grande elenco levaria multidões aos cinemas ou faria sucesso no home vídeo e nas reprises da TV, mas com o cenário atual e com o preço alto dos ingressos, fica difícil saber, embora o filme tenha chance na temporada de premiações.

Dirigido e escrito por Rian Johnson (diretor de Star Wars – Os Últimos Jedi), o filme se passa na mansão da família Thrombey. Logo no início, o patriarca da família, sr. Harlan (Christopher Plummer) é encontrado morto e três detetives vão ao local para a investigar.

Todos são considerados suspeitos, pois todos dependiam dele de forma direta ou indireta e isso o filme mostra pelas conversas e flashbacks, mas sem diálogos expositivos e sem questionar a inteligência do espectador, deixando para ele próprio tomar suas decisões e desvendar o mistério.

O roteiro do filme é um grande quebra-cabeça onde nada é o que parece ser e tentar desvendar é uma das graças do filme. Justamente por isso, recomenda-se falar o menos possível do desenrolar da história ou para quem for consumir o filme, para evitar sinopses mais elaboradas.

Na maior parte do filme, não há mocinhos nem vilões. Todos têm uma motivação (a maioria financeira) para a execução do assassinato e o acerto de Rian Johnson aqui se dá não apenas em evitar o maniqueísmo que vemos muito em Hollywood, mas na direção de seu elenco.

Foi difícil distribuir o tempo de tela com o elenco, mas Rian conseguiu com a maior parte dos atores, embora não tenha acertado com todos, por exemplo, Jamie Lee Curtis e Katherine Langford estão muito apagadas por aqui, mas o mesmo não se pode dizer do próprio Plummer, que aparece em flashbacks e se diverte no papel, Ana de Armas, com uma característica bem peculiar em contar “verdades”, além de Chris Evans: o nosso Capitão América também se diverte em um papel completamente diferente, mostrando timing para o humor e surpreendendo a cada tomada.

O filme é competente tecnicamente e considerando que este é um filme de orçamento mais modesto, pode passar despercebido do grande público, mas não há como não reparar no design de produção (e a mansão é um personagem do filme) e a montagem, transitando entre passado e presente sem cansar o espectador.

Entre Facas e Segredos é uma obra quase perfeita, mistura suspense e comédia na medida certa onde nada é o que parece ser e todos são suspeitos.

É um suspense como há muito tempo não se via na tela de cinema, mas sim, nas boas séries como Mindhunter ou Segurança em Jogo, ambas da Netflix.

Hitchcock deve estar orgulhoso lá em cima.

Nerd: Raphael Brito

Não importa se o filme, série, game, livro e hq são clássicos ou lançamentos, o que importa é apreciá-los. Todas as formas de cultura são válidas e um eterno apaixonado pela cultura pop.

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