Crítica “Carcereiros” – Filme funciona mesmo sem a série de TV

Uma coisa interessante em filmes e séries sobre prisão é que mesmo sendo um ambiente fechado, dá para explorar e dissertar sobre diversos assuntos como: a corrupção da justiça (Um Sonho de Liberdade), a tensão no corredor da morte (À Espera de um Milagre), o feminismo como resistência (Orange is the New Black), a violência policial (OZ) ou até mesmo a história do ponto de vista dos agentes penitenciários, como é o caso da série de TV Carcereiros, que também está ganhando seu filme.

O interessante deste ponto de vista é que tanto a série quanto o filme pegam justamente o intermediário entre os presos e o sistema, mas também vemos que um agente penitenciário tem que manter a postura, ser profissional, mas também permanecer o mais próximo possível de quem está preso, pois nunca se sabe quando terá uma rebelião.

A série foi baseada no livro homônimo de Dráuzio Varella, que também escreveu o livro Estação Carandiru (que virou filme em 2003), teve duas temporadas muito bem-sucedidas na TV e agora invade as telas de cinema.

Não é novidade que uma série vire um filme, mas uma grande preocupação dos roteiristas está em transformar o enredo em uma história fechada, independente e que o público compreenda sua trama mesmo sem conhecer o material original.

E isso o filme Carcereiros faz muito bem.

Não se trata de uma extensão da série. O ambiente e personagens estão lá, mas temos aqui uma história original e fechada para o cinema.

A trama é do ponto de vista do agente penitenciário Adriano (Rodrigo Lombardi), inclusive com narração em off do ator. Ele relata o dia a dia de seu trabalho como carcereiro e a sua guerra diária. Tudo parecia normal, até que ele e seus colegas recebem a notícia de que um terrorista internacional vai passar uma noite no presídio e terá vigília 24 horas, gerando a ira de quem está lá e tudo piora quando nesta mesma noite um grupo mascarado invade o local e começa uma rebelião.

Tecnicamente, Carcereiros – O Filme é muito bem-sucedido: as cenas de ação são competentes, a violência é brutal e o espectador fica tenso com o que vê em tela. O trabalho de som é muito competente e a montagem é um grande personagem, principalmente porque a ação se passa praticamente em um só dia, em um mesmo local e jamais cansa o espectador.

E a direção de José Eduardo Belmonte extrai o melhor de seu elenco: Rodrigo Lombardi repete o papel de Adriano e não apenas apresenta o peso dramático para o filme, como segura um longa em que está presente em quase todas as tomadas, mas que convence como um ator de ação, sobretudo na segunda metade do longa.

E todo o elenco de apoio é competente, como os veteranos Milton Gonçalves como o diretor do presídio, Tony Tornado como o também carcereiro Valdir, Jackson Antunes e Dan Stulbach. Quanto a esses dois últimos, quanto menos souber de seus personagens, melhor a experiência fica.

Mas o grande destaque fica para o ator Kaysar Dadour, que faz o terrorista em questão. O ator é um ex-BBB, que participou da novela Órfãos da Terra e aqui transmite a tensão somente no olhar. Mesmo tendo poucas falas e não sendo o protagonista, o filme é muito focado em seu personagem.

Mas não adianta o filme ser tão competente tecnicamente e com um elenco tão afiado se falha em um detalhe fundamental: roteiro.

Ok, ele tem uma história fechada e não depende da série, mas as qualidades param por aí: o roteiro de Carcereiros é uma grande colcha de retalhos sem foco. O filme começa a falar sobre o sistema prisional, o trabalho de um agente, mas entra na questão terrorista e indo parar até na corrupção política, não se aprofundando em nenhum desses tópicos, muito pelo contrário, passa de forma rasa. Sem contar que há alguns plot twists na segunda metade que de surpreendentes não tem nada: são totalmente anticlimáticos e que demonstram a fragilidade do roteiro.

Mas isso não quer dizer que Carcereiros – O Filme seja descartável, muito pelo contrário: é um grande feito do cinema nacional, um avanço técnico, uma amostra que o Brasil pode – e deve – fazer um bom filme de ação ou de prisão e com todas as qualidades já citadas, um sinal de que é uma questão de tempo até acertarem na próxima.

É esperar para ver.

Nerd: Raphael Brito

Não importa se o filme, série, game, livro e hq são clássicos ou lançamentos, o que importa é apreciá-los. Todas as formas de cultura são válidas e um eterno apaixonado pela cultura pop.

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