Corpo Fechado: 20 anos depois

Com o fenômeno de bilheteria de O Sexto Sentido, lançado em 1999, todos ficaram curiosos pelo novo trabalho do jovem cineasta M. Night Shyamalan, Corpo Fechado. E junto com essa curiosidade também vinha a desconfiança: será que esse é o diretor de um filme só? Será que O Sexto Sentido foi um acidente em sua vida?

Felizmente não foi. Até porque o M. Night segue fazendo sucesso até hoje, mas a recepção fria de Corpo Fechado na ocasião do lançamento é uma grande amostra de como funciona a máquina de burocracia em Hollywood: o filme foi muito mal vendido, pois todos os trailers e materiais de divulgação davam a entender que se tratatava de um terror sobrenatural, assim como o filme antecessor, o que deixou muita gente frustrada.

Tanto que, embora o filme não tenha ido mal de bilheteria, ficou bem abaixo dos mais de 600 milhões faturados por O Sexto Sentido: dos 75 milhões investidos, faturou 248 nas bilheterias mundiais.

Um grande tombo, é verdade, mas não demorou muito para que Corpo Fechado ganhasse fãs no mundo inteiro, status de cult, sobretudo com a chegada do filme em DVD. Sem contar que gerou mais duas continuações, Fragmentado e Vidro, fechando, assim, uma trilogia.

Até o título brasileiro, Corpo Fechado, dá uma ideia de algo sobrenatural. Muito diferente do original Unbreakable, ou Inquebrável, em uma tradução livre.

M. Night Shyamalan sempre foi apaixonado pelo universo dos quadrinhos e neste filme colocou todo o seu sentimento de um jovem que se vê nas páginas.

E agradeça a este filme por muita coisa que temos hoje: Universo Marvel, DC, grandes lojas de quadrinhos e até mesmo os filmes mais “diferentes” baseados em HQs, como o próprio Coringa.

Na história de Corpo Fechado, Bruce Willis é David Dunn, um segurança frustrado com o trabalho e seu casamento com Audrey (Robin Wright) não ia nada bem, até que ele se torna o único sobrevivente de um acidente de trem, não sofrendo nenhum arranhão.

O caso ganha repercussão na mídia e chama atenção de Elijah Price (Samuel L. Jackson), um homem um uma doença rara, a qual deixa seus ossos incrivelmente frágeis. Elijah também é apaixonado pelo universo das histórias em quadrinhos.

Elijah conhece David e fica obcecado pela sua história, criando a teoria de que ele seja um super herói, já que Dunn jamais ficou doente na vida e reconhece um vilão apenas pelo toque.

Um dos motivos para a bilheteria ter ficado abaixo do esperado foi a decisão de fazer um filme com o ritmo mais lento e pautado na realidade: não espere grandes cenas de ação, efeitos ou fantasia. O filme é pautado nos personagens e diálogos. E acerta nos dois.

Os diálogos são incríveis, inteligentes e jamais questionam a inteligência do espectador, muito pelo contrário: nada aqui é gratuito e muita coisa aqui é sutil para deixar a plateia tirar as conclusões e refletir sobre o que está vendo em tela.

E quanto aos personagens, não é exagero nenhum dizer está entre os melhores criados por M. Night: temos as legítimas figuras do herói e vilão, sem apelar para clichês ou sem apontar o dedo, mas que o roteiro consegue dizer nos detalhes que o espectador mais atento consegue sacar.

Sem contar a entrega do elenco: Bruce Willis se dá bem em papeis mais dramáticos como Os 12 Macacos e o próprio O Sexto Sentido. Aqui é um homem amargurado, cansado e longe do que o imaginário popular imagina do que seja um super-herói.

Samuel L. Jackson faz um papel mais contido e bem longe do seu Nick Fury ou dos filmes do Tarantino, por exemplo, mas um personagem com diversas camadas onde o público tem empatia com ele.

Outro destaque também é Robin Wright, que pode parecer um personagem pequeno, mas fundamental, sobretudo em como o protagonista e seu filho lidam com as mudanças em suas vidas e suas motivações.

E por se tratar de um filme de M. Night Shyamalan, o desfecho apresenta final-surpresa, um plot twist que só veríamos continuar 16 anos depois com o também ótimo Fragmentado.

Gostar ou não é um direito de cada um, mas não dá para negar a importância de Corpo Fechado para o cinema de super-heróis e cultura pop em geral.

Seja pela fantasia, realidade, para adultos ou crianças, o que queremos são boas histórias e que o ato de ir ao cinema seja uma grande experiência.

Nerd: Raphael Brito

Não importa se o filme, série, game, livro e hq são clássicos ou lançamentos, o que importa é apreciá-los. Todas as formas de cultura são válidas e um eterno apaixonado pela cultura pop.

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