Compartilhar: grande tema e péssima execução

O momento não poderia ser mais favorável: em um mundo onde as discussões sobre o lugar da mulher na sociedade estão em alta, sobretudo no que diz a trabalho, educação, igualdade e outros tópicos, além dos debates sobre assédio e estupro, este filme não poderia ser mais oportuno.

            Compartilhar, novo filme original da HBO, toca exatamente neste tema sobre s cultura do estupro em um ambiente escolar, misturando também o cyberbullying, as novas tecnologias, o sentimento de culpa e vergonha da vítima e o julgamento da sociedade.

Não que isso seja algo novo na cultura pop, a própria HBO fez a série Euphoria com muito sucesso. Aliás, a própria diretora e roteirista do filme, Pippa Branco, também dirigiu um episódio da série.

            E não devemos nos esquecer da explosiva e polêmica 1ª temporada de 13 Reasons Why, que ainda toca no tema da depressão na adolescência.

            Mas agora a HBO chega com este filme, Compartilhar.

            Nos primeiros momentos do filme, nota-se que estamos falando de um filme de baixíssimo orçamento: não há nomes conhecidos no elenco, há poucas locações (escola, casa da protagonista) e o canal está fazendo marketing quase zero para o filme.

            Por mais que a qualidade do material possa ser questionável, é preciso valorizar o que tem, afinal, se a própria HBO não divulga seu filme direito, quem vai? Ainda mais em tempos de streaming onde toda semana sai uma produção nova da Netflix, Amazon, Hulu ou da própria HBO.

            No filme, temos a adolescente Mandy (Rhianne Barreto), jovem tímida e carente, que foi filmada em um vídeo íntimo, que vazou na internet, mas a própria não se lembra o que aconteceu.

Faltaram discussões ou conscientizações mais profundas para a história, o filme até que tenta, mas tudo é mostrado de maneira superficial, sem impacto e que o espectador logo vai esquecer.

            Não era preciso orçamento para um filme mais impactante, bastava um pouco de boa vontade e roteiro melhor escrito. Não são poucos os filmes baratos que se tornaram clássicos e cultuados e este filme perdeu a chance de ser.

            Seja nas conversas com os pais, com colegas ou até mesmo para si, não dá para ter empatia com a protagonista e mesmo com sua curta duração de menos de 90 minutos, é difícil segurar o sono, sobretudo em seu segundo ato, sem contar as péssimas atuações, sobretudo do elenco adolescente, começando pela protagonista.

            Isso não quer dizer, porém, que o filme deva ser ignorado, muito pelo contrário: assédio, cyberbullying e o constrangimento online são temas que podem e devem ser discutidos e usados como exemplo para que isso nunca mais aconteça e este filme pode ser a porta de entrada para que muitos se conscientizem não apenas sobre o cenário atual, mas sobre a vida.

            Compartilhar perdeu uma chance de se tornar cultuado e lembrado como um bom filme independente. Há uma boa diretora envolvida, o selo de qualidade da HBO e uma boa intenção aqui, mas, como há diz o ditado, de boas intenções o inferno está cheio.


Nerd: Raphael Brito

Não importa se o filme, série, game, livro e hq são clássicos ou lançamentos, o que importa é apreciá-los. Todas as formas de cultura são válidas e um eterno apaixonado pela cultura pop.

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