Muitos dizem que a criatividade de Hollywood acabou e que os estúdios não investem mais em ideias novas. Outros acham que não há nada de errado em investir no que dá certo e que a culpa de tudo isso é uma mistura delicada entre o interesse do público em ir no que é certo, o preço altíssimo dos ingressos do cinema e os custos de produção.
E um dos símbolos disso, além dos filmes de franquia são os live actions da Disney, na qual eles adaptam animações de sucesso para os tempos atuais.
E se hoje em dia isso virou uma incrível fonte de renda para o estúdio, essa onda começou lá em 2010, com Alice no País das Maravilhas.
O filme teve uma campanha agressiva de marketing e deveria ser O grande filme daquele ano. Nas bilheterias fez bonito, faturando mais de 1 bilhão de dólares nas bilheterias mundiais (época que não era comum um filme faturar tudo isso) e se tornou a 2ª bilheteria daquele ano, ficando atrás de Toy Story 3.
Mas a crítica detonou o filme e parte da opinião pública não foi diferente, o que sacramentou o fracasso de Alice Através do Espelho, em 2016.
E o marketing do filme se deu em diversas frentes, como o uso do 3D (muito em alta na época com o fenômeno de Avatar), o elenco estelar (Johnny Depp estampou todos os pôsteres do filme), trilha sonora (Avril Lavigne na canção principal) e o diretor Tim Burton.
Aliás, o nome do Tim foi muito celebrado quando foi anunciado que dirigiria este filme, sobretudo porque ele é famoso por sua excentricidade e em explorar a fantasia e sobrenatural.
E quem conhece a história original sabe que a trama precisa disso.
Mas com todo o controle da Disney em um filme do estúdio e nem de longe é autoral, aqui ele está mais contido e faz um de seus piores trabalhos. Não é exatamente um filme ruim, mas a decepção é evidente.
Não se trata de um remake, mas de uma continuação: o filme parte do princípio que a Alice havia visitado o país das maravilhas na infância e retomou quando adolescente. O início é promissor, mostrando uma protagonista lutando contra o patriarcado (época que o termo nem era conhecido) e em emoções humanas, mas quando Alice cai no buraco e vai para o País das Maravilhas, a qualidade do filme cai junto.
O 3D não funcionava na época e hoje menos ainda, há um excesso de CGI em situações que somente os atores sejam reais (algo semelhante com Star Wars – A Ameaça Fantasma) e quase não há diálogos com peso emocional que o filme precisava.
Por falar nos atores, o filme pegou nomes de peso como Johnny Deep e Anne Hathaway que não estão bem: além da já citada falta de emoção, a química e interação entre eles praticamente inexiste. Todos parecem pouco à vontade em seus papéis: mesmo Helena Bonham Carter como a Rainha Vermelha passa a maior parte do tempo com caras e bocas e entoando a frase “cortem a cabeça! ”
Apenas Mia Wasikowska como a Alice consegue se esforçar e trazer um mínimo de empatia que o filme precisava – e a descobrimos como uma grande atriz em filmes como Minhas Mães e Meu Pai e Segredo de Sangue, por exemplo.
Até a trilha de Danny Elfman está mais contida e “normal” do que o costume. Nem de longe é marcante, aliás, é quase esquecível.
Mas a Academia reconheceu duas qualidades do filme: foi vencedor de 2 Oscar, Figurino e Direção de Arte, além de ter sido indicado a Efeitos Especiais (que merecidamente perdeu para A Origem).
Alice no País das Maravilhas de 2010 foi um sucesso de bilheteria, mas é cheio de problemas, burocrático e que não se arrisca.
Infelizmente essas características se tornaram comuns no cinema atual – a na própria Disney.