The Handmaid’s Tale realmente passou do ponto?

Atenção: pode conter spoilers!

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The Handmaid’s Tale está na metade da segunda temporada e eu continuo espectadora assídua da série. Nas minhas andanças pela internet me deparei com algumas críticas bem ácidas sobre o desenrolar da trama e hoje vim dar o meu ponto de vista sobre isso.
Vi muitas críticas sobre a forma como a violência está sendo utilizada nessa temporada e li alguns textos relacionando a série a algo próximo a um pornô de tortura. Sim, é fato que esse estilo de vídeo é um dos mais procurados na internet, e que a violência contra a mulher é algo que deve ser combatido – mas prefiro pensar que todo tipo de violência gratuita deve ser combatido.

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Se você não está acompanhando a série, vamos à uma atualização. Nessa segunda temporada June está grávida do comandante Waterford (na verdade grávida de Nick, o motorista, que fez sua singela contribuição para ajudar June. Abençoado seja o fruto!). Após meses fugindo, tentando chegar ao Canadá, June é recapturada e levada de volta ao lar dos Waterford.
Durante sua fuga, June pôde aproveitar momentos de quase liberdade e sem punições aleatórias. Contudo, ao retornar a Gilead foi mergulhada sem dó nem piedade no ciclo animalesco de tortura e punições descabidas – vemos aias tendo suas mãos queimadas, Emily sofrendo mutilação genital, forca coletiva, e claro, a tortura psicológica está mais intensa do que nunca.

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Por conta de cenas como essas muitas espectadoras deixaram de assistir à série e críticas como a que mencionei acima começaram a surgir. São cenas fortes? Sim! Incomodam? Muito! Mas na minha opinião realmente serviram ao propósito de escalonar os sentimentos e levar a série a outro patamar, e não apenas de chocar, como sugeriram outras críticas, explico.
A forma como a maldade do governo de Gilead é retratada foi primorosa em incitar os sentimentos das personagens nos espectadores. Conforme os episódios vão sendo assistidos, você sente um fio de esperança e fôlego durante a fuga de June, assim como ela. Quando ela é recapturada, o anticlímax é total assim como o sentimento de desamparo e submissão ao sistema.

The Handmaid's Tale
Mas então, de forma inesperada, a trama se reorganiza em torno da raiva e vontade de lutar das Aias – e adivinha só, enquanto você assiste você sente a esperança renascer e pensa “agora vai!”. E vai MESMO!
Quando a punição chega às camadas mais altas da sociedade de Gilead (Serena Joy, aka Sra. Waterford também recebe sua cota de violência gratuita por ser mulher) uma irmandade começa a se formar. Afinal, como eu sempre digo TUDO TEM LIMITE, e há limites também para os absurdos que um ser humano aguenta.

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Agora, de volta à crítica, eu particularmente não acredito que os recursos utilizados tenham sido empregados apenas para chocar e incomodar. Ao meu ver houve sim o propósito de incomodar, mas esse foi um meio para um fim – o de trazer o espectador para dentro da trama, fazê-lo sentir o que as personagens sentem e se conectarem com uma realidade que não é exclusiva da série (afinal, muitas das torturas empregadas em The Handmaid’s Tale existem na vida real e são empregadas até hoje, na maioria das vezes nem como tortura ou punição, mas como parte de uma tradição).

Aos que desistiram da série por conta desses fatores, deem uma nova chance. As personagens evoluíram muito na trama, ganharam profundidade e as histórias individuais de cada uma ganharam ainda mais importância. Além disso, nessa temporada fica muito nítida a falta de controle que realmente há nos regimes totalitários, e fica muito claro como eles se sustentam com base no medo.
The Handmaid’s Tale lança mão do mesmo recurso de Jogos Mortais e, da mesma forma, dá à violência um propósito na trama e no desenrolar do enredo. Por isso, não acredito que deva haver seletividade em relação ao tema e a quem a violência é dirigida.
Vou continuar assistindo pois a série está muito boa, e depois volto aqui para contar se as Aias conseguiram se libertar, se os comandantes fugiram, e se as esposas perceberam a roubada na qual se envolveram.

Nerd: Bruna Petrocelli

Formada em Relações Internacionais pois um dia pensou em ser diplomata, percebeu que não curtia protocolos e burocracias. Consultora de marketing e apaixonada por nerdices em geral, diz que topa trabalhar na ONU no dia em que for aceitável participar das reuniões usando tênis e camiseta do Star Wars.

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