O Rastro: um novo tom ao cinema nacional?

Ainda é difícil prever se o filme O Rastro será um sucesso comercial, mas uma coisa não dá para negar: ele tem ousadia, autoria, autonomia e culhões para adotar um novo conceito aos  filmes brasileiros de gênero. Ainda existe um preconceito com filmes nacionais e o que mais está levando o grande público aos cinemas são as comédias, algumas boas, mas a maioria de gosto duvidoso.

A série 3%, da Netflix, já foi um passo importante para mostrar um novo gênero para o Brasil, mas o suspense/terror O Rastro pode ir mais além: alcançar um número maior de público e fazer com que não somente as pessoas gostem de um filme de terror brasileiro, como fazer com que os fãs do gênero se identifiquem com um produto tupiniquim e se sintam representados em tela.

Se parte do público brasileiro tem preconceito com filmes brasileiros, imagine com um terror brasileiro, que de forma geral não é levado a sério, sobretudo pelo passado de algumas obras. Mas ‘O Rastro’ tem um perfil diferente: é levado a sério, há diversas referências a clássicos de terror, como O Iluminado, Psicose, O Bebê de Rosemary e a fotografia em tons de azul e cinza, com cores frias e intimistas, é claramente inspirada em O Chamado.

Sem contar que o filme não economiza no medo, não apenas pelos detalhes técnicos, mas pela transformação física e psicológica do protagonista, João, vivido por um Rafael Cardoso muito inspirado. Toda a loucura e obsessão pelo seu objetivo não perde nada para suspenses psicológicos hollywoodianos.

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Mas, no caso de O Rastro em especial, por mais que exista o elemento sobrenatural ali, o real vilão da história é o sistema de saúde. A trama de um hospital em decadência, com pacientes sendo transferidos e com a corrupção envolvida serviu como pano de fundo para mostrar que o real terror está na vida real.

O personagem João é o responsável pela transferência de pacientes, mas fica obcecado pela garota Júlia, que desaparece misteriosamente e conforme as investigações avançam, menos o protagonista sabe. A única coisa que ele sabe é que não vai parar até achar a garota, mesmo que isso afete sua vida, saúde e a família, sobretudo o relacionamento com sua esposa, Leila, vivida pela ótima Leandra Leal, que está gestante (daí a inspiração em O Bebê de Rosemary) e é diretamente afetada pela mudança de seu marido.

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O filme se passa, na maior parte do tempo, em um hospital, e isso foi positivo para driblar o baixo orçamento e dar um clima mais claustrofóbico que o roteiro exigiu, mas o filme não escapa dos problemas. E eles independem de orçamento: nem todos os plot twists funcionam. Há uma grande virada de roteiro do segundo para o terceiro ato que é muito bom e muda o filme drasticamente, mas esta não é a única virada e que não foi exatamente uma ideia genial como o roteiro quis colocar em tela.

Além do mais, o filme usa e abusa de jumpscare e praticamente todos levam o nada a lugar nenhum, que, além de incomodarem conforme o filme vai passando (e acontece em muitas vezes no filme), esses “sustos” foram mais expositivos do que como contribuição para a história. Não bastasse isso, a Mixagem de Som estoura nesses momentos e que resulta mais em frustração do que em terror de fato.

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Mas, apesar dessas ressalvas, O Rastro pode ser o pontapé inicial para que finalmente o Brasil explore outros gêneros, que se leve a sério e que seu público finalmente abrace seu cinema, onde, há sim, muita coisa boa, basta procurar e ter uma divulgação maior.

Nota-do-crítico-4

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Nerd: Raphael Brito

Não importa se o filme, série, game, livro e hq são clássicos ou lançamentos, o que importa é apreciá-los. Todas as formas de cultura são válidas e um eterno apaixonado pela cultura pop.

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