Mesmo quem nunca viu ou ouviu falar em Monty Python já deve ter visto de forma indireta: o grupo de humor inglês dos anos 70 e 80 influencia comediantes do mundo inteiro até hoje, inclusive no Brasil. Acha exagero? Sem Monty Python, provavelmente, não existiria clássicos como TV Pirata, Casseta e Planeta e os recentes Porta dos Fundos, Parafernalha e Tá no Ar.
Dividir o humor, não em um programa único, mas em esquetes, e, assim, podendo explorar melhor seu roteiro com novas ideias, é uma das formas mais eficientes de divertir seu público.
Já aqui no caso de Monty Python, na ocasião do lançamento de O Sentido da Vida, eles já eram um grupo conhecido, com dois filmes muito bem-sucedidos, Em Busca do Cálice Sagrado e A Vida de Brian e aqui realizaram seu projeto mais ambicioso: O Sentido da Vida não tem uma história fechada, mas a ideia é passear por todas as fases da vida, desde o nascimento até a morte e sem pudor no humor, satirizando tudo e todos: desde a Igreja até a doação de órgãos.
O filme começa com um curta de Terry Gilliam criticando o mercado financeiro. O espectador pode achar que o curta seja gratuito e que não tem nada a ver com o resto do filme. Puro engano: a resposta vem lá na frente – e com um ponto de vista diferente.
Provavelmente a esquete mais cômica é logo no início, quando somos apresentados à uma família de classe baixa e com um número altíssimo de crianças. O patriarca dessa família sugere vender seus filhos para ganhar uns trocados e critica à Igreja Católica pela não-aceitação do uso de camisinha, com um número musical tão engraçado quanto ácido: ‘Todo Esperma é Sagrado’ e finalizando com um casal de protestantes criticando o catolicismo e enaltecendo sua religião com as crianças saindo de casa em fila indiana ao fundo. É completamente hilário.
Nem todas as histórias são cômicas e isso atrapalha o ritmo do filme, como a história – visceral e desnecessária – do sujeito que é tão obeso que explode, literalmente. Pode ter sua graça aqui e ali, mas falta a crítica social que o tema pede. Fica o humor pelo humor.
Muito diferente, por exemplo, da crítica (igualmente visceral) à doação de órgãos e ao conceito de morte que conhecemos, com uma hilariante conversa entre família com a própria morte ali presente.
Mas um esquete ruim de Monty Python, é como assistir a um episódio ruim de Black Mirror: o próximo pode ser brilhante e logo esquecemos do anterior.
Monty Python – O Sentido da Vida está disponível na Netflix, desde já, muito recomendado, até hoje é referenciado, copiado, mas, jamais superado.
É impossível não nos deliciarmos com Terry Gilliam, Terry Jones, Graham Chapman, John Cleese, Eric Idle, entre outros.
Em tempos de discussões sobre o politicamente correto e sobre os limites do humor, é mágico ver que lá atrás, tínhamos um grupo que criticava tudo e todos de forma inteligente, sem sutilezas e, ainda, sem uma vírgula de ofensa às ditas minorias.
Haters de internet, aprendam com quem sabe!