Garotas Selvagens é o filme certo, mas na hora errada. Era o final dos anos 90, onde mal se discutia sobre assédio ou machismo. O que estava na moda na época eram os filmes de suspense/terror para o público adolescente, sobretudo com o sucesso de Pânico e Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado.
Garotas Selvagens estreou no ano de 1998 e assim como outro filme voltado ao público adolescente da época, Segundas Intenções, foi muito mal vendido focando na trama supostamente erótica e, como os dois filmes apresentavam atores que já faziam sucesso entre adolescentes, foi difícil não associar o ator do personagem.
Neste caso, Neve Campbell estava em alta com a saga Pânico e a série O Quinteto e sua adição ao elenco foi uma tentativa clara de atrair público, mas que felizmente não prejudicou o resultado deste filme.
Muito pelo contrário, Garotas Selvagens é um thriller muito interessante e com várias reviravoltas. Na história, o professor Sam Lombardo (Matt Dillon) é acusado por uma das alunas, Kelly Van Ryan (Denise Richards) de estupro. Kelly é milionária e herdeira de uma família influente e o caso ganha repercussão. Bill Murray tem uma participação pequena como Ken, advogado de Sam, mas muito eficiente.
Kevin Bacon, que também é o produtor deste filme, é o detetive responsável pelo caso. Já Suzie (Neve Campbell) é uma ex-aluna de Sam, que estava sumida e reaparece por conta do caso.
O filme apresenta uma boa discussão sobre estupro e abuso e até onde o dinheiro pode comprar o silêncio ou o direito de cada um. Em tempos de discussões sobre empoderamento, seria um filme comentado, mas que passou quase batido na época.
Mas a polêmica do filme se deu pelas cenas de sexo a três quase sem cortes, algo incomum para um blockbuster na época. Justamente por isso, o filme ganhou censura R nos EUA.
Neve Campbell e Denise Richards (principalmente) aparecem de forma sensualizada, o que também gera uma discussão que temos até hoje sobre a vítima provocar ou não.
Porém, para quem assiste Garotas Selvagens, o que marca mesmo são os plot twists. Assim como o recente Garota Exemplar, onde há várias viradas de roteiro e o espectador é enganado a toda hora, há essa impressão.
Logo na metade do filme há uma revelação que explode a cabeça de qualquer um, mas quando o público acha que sabe algo, logo vem mais uma surpresa até seu inesperado final. Há tantas reviravoltas que existem cenas durante os créditos explicando o que houve para situar o espectador, portanto, continue no filme após a subida dos créditos.
Garotas Selvagens é um suspense eficiente, sensual e surpreendente. Custou 20 milhões de dólares e faturou 55 na bilheteria mundial, ou seja, foi um sucesso muito tímido. No Brasil passou quase batido. Nem no Home Vídeo teve o reconhecimento merecido. Hoje permanece esquecido, mas deveria ter nova chance com o público pelas plataformas de streaming como a Netflix ou Amazon.
Não é apenas de blockbusters que vive o cinema.
