Hero Story: Por que a Marvel é a Nova Pixar

Há quase quinze anos um filme sobre brinquedos antropomórficos com uma vida secreta própria, mesmo não sendo terror, arrebatou multidões e fundamentou a estética da computação gráfica nos cinemas ainda que não a tenha inventado. Essa lendária empresa relacionada à Santa Igreja da Maçã criou uma linguagem universal que conversava com diferentes idades e fazia o milagre da multiplicação financeira para seus investidores, pois cada filme era um sucesso de crítica e bilheteria. E, pra mim, seu ápice criativo foi com um romance de robôs. Alguém mais chorou insanamente com esse filme?

O anúncio de um novo filme era tão esperado e aguardado quanto um novo celular. O seu ciclo heróico terminou onde começou: na sequência dos filmes de brinquedos. E aí começou a decadência. A lendária companhia de animação se separou da Igreja da Maça e juntou-se ao Grande Rato. E mais sequências vieram. E ruins. Será que foi por causa do Grande Rato? O que aconteceu com aquele reator nuclear de criatividade e fofura? Rendeu-se ao capitalismo selvagem? Não sei.

Hoje existe outra empresa, de qualidade mais inconsistente cujos lançamentos causam grandes expectativas. A criatividade ainda se mantém naquela esfera infantil e surreal que atrai públicos variados. Esta tem um legado de 70 anos de histórias, mas resolveu apostar nos personagens e histórias mais obscuras e absurdas. Não tem a mesma recepção da crítica, mas faz tanto ou mais dinheiro quanto o Bill Gates por meia hora no banheiro. E também foi comprada pelo Grande Rato.

E maior do que tudo isso, assim como a primeira, estreou um novo formato de se fazer cinema, advinda de outras fontes – o universo conectado de tramas. E até agora sabe fazer continuações melhor do que a primeira.

Por isso a Marvel é a nova Pixar. Mas a Marvel não é igual à Pixar.

Existe um ciclo claro de ápice e declínio em qualquer instituição humana. A da Pixar, infelizmente, foi curta mas não tanto como muitas redes sociais que levaram nossos dados pessoais embora. Simbolicamente e em eras distintas, ambas recuperaram uma inocência e magia infantil que o mainstream do cinema nunca aperfeiçoou ou levou ao extremo, ou mantendo uma certa consistência do mesmo estúdio.

A Marvel não inventou o gênero de super-herói cinematográfico muito menos o modelo de tramas conectadas. Mas até agora é a única que está sabiamente aplicando o melhor de cada um na telona. Um dos seus elementos chaves foi aceitar a natureza caótica, irresponsável e completamente fora da realidade de suas histórias. Não é necessário muita explicação teórica e sim assistir ao seu último grande sucesso sobre uma árvore autista e um guaxinim mercenário.

A “morte” da Pixar enquanto estúdio de qualidade excepcional não levou para o mesmo caixão o gênero e técnicas que ela fundamentou e por isso sempre será lembrada. Sinto que o mesmo não poderá ser dito da Marvel – seu declínio estará ligado ao gênero também que muita gente espera acabar logo. Mas é preciso um sentido aranha somado ao sétimo sentido para ter certeza e eu quero estar tão vivo quanto ela para ver Os Vingadores 3 com o Homem Aranha (pode sonhar né?).

A questão mais intrigante é o quanto ambas refletem suas realidades por entenderem um complexo contexto cultural e conseguirem responder de acordo com ele. A Pixar, entre muitas coisas, representou a libertação da criança interior. O açucar do café do Central Perk. A conexão emocional que independe da “realidade” refletida na tela.

Já a Marvel responde a anseios mais sombrios. O Batman de Nolan se afundou numa realidade caótica, suja e injusta, uma resposta objetiva ao nosso poder restrito de impacto político, econômico e social. Nosso mundo não está muito longe disso e cresce nossa sensação de falta de controle ou de apocalipse iminente com ebola, falta d’água, sombras da terceira guerra mundial e a implosão climática. Mais do que nunca desejamos heróis que nos protejam em uma realidade que, mesmo gritando por um salvador, não é tão séria assim também. Podemos ligar a esse mesmo movimento a ascenção da fantasia, com outras variáveis.

Enfim, essa é uma análise bem superficial. Heróis de ação existem desde os anos setenta. Star Wars já tinha transportado uma outra geração inteira para diferentes galáxias. Mas até o momento só a Marvel conseguiu reunir num mesmo filme decente um bando de heróis desajustados e quebrados tentando encontrar um propósito em suas existências enquanto tentam salvar alguma coisa importante.

Isso me lembra alguns brinquedos que eu tinha.

 

Nerd: Novo Nerd

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