From Zero

Fala, Nerds! Sejam bem vindos ao meu humilde mundo.

Você joga RPG de tabuleiro? Aposto que vocês que sabem do que eu estou falando já tentaram explicar como funciona para os amigos e família, e todo mundo ficou com uma cara de ponto de interrogação quando você terminou de explicar, não foi? É exatamente por isso que resolvi começar a escrever os encontros de RPG. Mesmo ouvindo as gravações, ainda há quem diga “Mas como vocês acham isso legal? São só dados!”.

Nananina, é muito mais do que isso. É como fazer parte de uma grande fábrica de ideias onde absolutamente ninguém é ator, mas encarna o próprio personagem.

Assim que todos estamos sentados com os pacotes de Trakinas de morango e copos com Coca-Cola em cima da mesa, dados de estimação em cima das fichas e tabuleiro no centro da mesa, o que não pode faltar são os gravadores. No começo, fizemos isso só para uma recapitulação básica, mas aí, uma luz! E se eu escrevesse sobre o que acontecia no jogo sob o ponto de vista de uma das personagens? Isso faria os ~meros mortais~ entenderem um pouco melhor esse universo. Este conto foi baseado na personagem Zero, do Casimiro (<3), dentro do universo Tormenta RPG. Isso é para mostrar que não, não são só dados. _____________________________________________________________

O cheiro era insuportável e ficava cada vez pior. Da última vez em que vira alguma coisa, seu companheiro estava desmaiado. Ele só o conhecia de vista; era filho de um dos taverneiros do vilarejo e também fora trazido para as masmorras.

Eles nunca mais tiveram paz desde que o primeiro destacamento veio de Yuden.

Zero já não sabia há quanto tempo estava ali. Pelo cheiro, umas duas semanas. Não conseguia mais sentir as pernas, mas sabia que estava sentado em cima delas.

Uma palavra errada, apenas uma. Graças à sua arrogância. Os Yudenianos ouviram e o pegaram. E depois se seguiram duas semanas de tortura. No terceiro dia lhe quebraram as pernas, no sexto cortaram-lhe a língua ou teria sido no sétimo? Suas órbitas agora estavam vazias, porque ele não respondera às perguntas e lutara.

Em meio ao cheiro pútrido, ele podia identificar o aroma doce de pão velho e seco, o que ele se recusaria a ingerir antes, mas agora sua boca sem língua salivava pela comida. Não podia comer, entretanto; suas mãos estavam amarradas às costas e ele não podia ver onde estava a comida agora e não podia se arrastar também, pois tinham lhe acorrentado os pés.

Um silêncio repentino o fez parar de se mexer. Sem enxergar, Zero passara a prestar mais atenção em seus outros sentidos, além disso, já estava acostumado com o barulho das armaduras tilintando lá fora, mas de repente o raspar dos metais cessaram somente para dar lugar a uma voz forte.

– Alto lá!

Estremeceu com aquela voz, se de raiva ou de medo ainda não era possível saber. Percebeu então que seu companheiro de cela estava morto, pois ele não ouvira o barulho de suas correntes (e agora notava que fazia muito tempo), nem seu gemido agoniado, o que era bem usual. Aquela voz pertencia a um de seus carrascos que agora fazia guarda em frente às masmorras.

Respirou fundo, inalando o odor da podridão. Pelo menos não era Ivan, seus empregados não o teriam mandado parar daquela maneira.

Esperou, esperou e conseguiu ouvir uma voz de mulher. Não parecia ser nem um pouco frágil, era quase possível ver uma guerreira como dona da voz.

Ouviu um gemido estrangulado do lado de fora e então a confusão começou. Espadas tiniram e arranharam suas bainhas e logo depois veio o alarme. Houve correria do lado de fora, e a confusão do tilintar das armaduras recomeçou, mas de uma maneira bem mais apressada.

Correria e o som inconfundível de um corpo caindo no chão.

Guardas ficaram agitados na câmara ao lado, mas mantiveram o silêncio, desembainhando suas armas com rapidez de carrascos, esperando para atacar o inimigo desconhecido. Moveram-se rapidamente, pés arrastando-se no chão em uma tentativa fraca de ser furtivo e os guardar tomaram suas posições.

A luta lá fora continuou e não demorou a ser trazida para dentro. Para derrotar todos os guardas lá fora era necessário um grupo consideravelmente grande e de muita experiência. Por um momento, Zero temeu que talvez eles fossem piores que os Yudenianos – embora fosse difícil de acreditar – e se eles estivessem tomando o vilarejo em nome de outra cidade? E se o torturassem mais? Mas seu coração se acalmou quando forçou-se a pensar racionalmente. Que cidade seria louca o suficiente para se opor a Yuden?

Ouviu barulho de mais armaduras lá fora. Pelo som eram armaduras pesadas, armaduras Yudenianas. Zero tratou de não criar esperanças, porque quem quer que tivesse derrotado os guardas lá fora, não podia dar conta do número que estava vindo para ajudar. Ou talvez…

Pelo que conseguia se lembrar da entrada da masmorra, a única porta de entrada era bem estreita, apenas uma pessoa seria capaz de bloquear. Foi então que ele pensou em ajudar, toda sua exaustão esquecida por conta da adrenalina.

Em outras circunstâncias ele teria ajudado – não por ajudar, mas sim para provar que podia ser útil, para si mesmo e para os outros. Teria sido, talvez, o primeiro a levantar uma espada…embora preferisse seu arco, no momento, qualquer coisa servia.

Era uma mistura de sons, ou muito baixos, ou muito altos. Estranhamente, a água corrente do Rio dos Deuses parecia se sobrepor a tudo isso. Era a sobrecarga que sua audição estava recebendo.

O mundo pareceu ficar mudo por um tempo, seu corpo amoleceu e ele entrou em algum tipo de transe de exaustão sabe-se lá por quanto tempo. Era algum tipo estranho de desmaio, pensou mais tarde. Quando seu corpo tombou para frente, ele não atingiu o chão. Seu rosto entrou em contato com uma superfície fria e lisa. Metálica. O choque da temperatura o fez despertar e sua audição pareceu voltar. O caos tinha acabado, estava tudo estranhamente silencioso. Talvez ele tivesse sonhado.

Uma voz de homem perguntou alguma coisa, quem ele era ou o que tinha acontecido talvez, uma voz que não lhe era familiar. Zero tinha todas as respostas, mas não podia articular.

Queria agradecer, queria chorar, queria sair dali, queria sua família de volta, queria voltar no tempo e parar de ser tão arrogante, mas ele sabia que não podia. Ele abriu a boca, mas tudo o que saiu foi um lamento estrangulado, extremamente vergonhoso. Um pedido:

– Por favor – implorou no melhor de sua voz e língua.

O homem á sua frente se afastou e Zero, por reflexo, encolheu-se, lembranças da tortura voltando á tona. Estranhou quando o tapa não veio.

– Você vai ficar bem – o homem disse – Vamos tirar você daqui.

A voz era carregada de uma confiança da qual ele se lembrava de ter antigamente.

Seu corpo estava cansado e ele estava indefeso, mas Zero decidiu confiar naquele homem. Que escolha ele tinha? Aliás, se o homem quisesse matá-lo, já teria feito.

Ouviu passos na câmara ao lado. Estavam descendo as escadas, iriam libertar os outros prisioneiros.

Seus braços penderam moles dos lados de seu tronco, soltos finalmente. Quem era aquele homem? Por que estavam aqui, arriscando suas vidas por prisioneiros que eles, muito provavelmente, nem conheciam?

Queria e não queria saber a resposta ao mesmo tempo, porque agora sentia que devia sua vida a este homem estranho e ele teria que pagá-lo de alguma maneira. Tinha crescido sobre a crença de um tipo de código de honra: se alguém salva sua vida, você deveria devolver o favor. Agora, Zero não tinha mais família, o que teria a perder?

Uma discussão se seguiu na sala ao lado. O ar ficava cada vez mais tenso, a revolta era quase palpável e o envolvia. Os ânimos estavam exaltados e, agora, lamentar não era o suficiente; eles precisavam lutar.

Pensou no que teria acontecido com seus outros dois companheiros de cela que tinham sido levados para a ala leste da masmorra no segundo dia, mas julgando que eles haviam parado de gritar, muito provavelmente estavam mortos.

De repente, sentiu seu corpo ser levantado, seu centro de gravidade mudou e Zero pôde sentir uma vertigem temporária por causa do movimento repentino, embora cuidadoso. Tentou gritar, mas não conseguiu. Suas pernas – antes adormecidas – pulsaram de tal maneira que fez com que ele perdesse o ar por um momento. Por reflexo, tentou morder a língua para conter o gemido de dor, e então lembrou-se que não tinha uma.

O cheiro ruim foi diminuindo e mesmo sem os olhos soube que estava fora da masmorra. Podia sentir a luz do dia.

Por que o homem levaria um aleijado com eles? Zero só os atrasaria, sabia disso, estava fraco e não teria condições de seguir uma viagem se precisasse. Mas ele também percebeu que, para o homem que o salvara, a vida de Zero valia mais do que a dele.

Dentro da masmorra, estar nu não era um grande problema, embora não fosse exatamente quente, a temperatura estava melhor do que do lado de fora. O vento gelado e cortante das Uivantes pareciam morder sua pele sem cessar. Em poucos segundos ele estava tremendo.

Seu corpo balançava como um boneco de pano sobre o ombro do homem, cada balanço lhe dava uma fisgada nas pernas. Mas de repente o homem parou e em seguida, uma voz falou:

– Lutaremos por vocês se pedirem!

Zero reconheceu a voz; era o líder do vilarejo, ele vinha sendo torturado há dias, Zero presenciara seus gritos. Era de surpreender que ainda pudesse falar.

– Lutem por vocês mesmos! – alguém disse. Zero não soube dizer se aquilo era um conselho ou uma ordem.

– Por Tennes! – gritaram em uníssono. Foi aí que Zero percebeu quantas pessoas haviam se juntado ao grupo.

Começava então uma guerra civil.

Zero pôde ouvir os passos apressados de imediato. Logo algumas pessoas começaram a correr. Em pouco tempo, gritos de Yudenianos se misturavam com os gritos de guerra dos civis. Metal se chocava para todos os lados e, agora mais do que nunca, Zero se sentia vulnerável, seus sentidos gritando por uma visão que ele não tinha para poder se situar no meio da guerra, para poder se proteger. Os sons faziam-no sentir-se como um ratinho assustado, querendo fugir desesperadamente, embora seu orgulho estivesse ferido por admitir isso. Ele não tinha condições de lutar e nem de fugir.

– Ali! – ouviu, e logo depois o som de pés marchando em ritmo perfeito.

Yudenianos. Um destacamento vinha de algum lugar. No meio de toda a confusão e mesmo com alguns sentidos ampliados, ele não conseguia dizer de onde.

Seu corpo se moveu mais violentamente, e Zero sentiu o frio do chão logo depois. Por um momento assustador, ele pensou que seu salvador tivesse finalmente percebido que um aleijado inútil só atrapalharia em uma situação daquelas e o deixara ali para morrer.

– O que você está fazendo? – uma voz de mulher perguntou, apesar de parecer aveludada estava alarmada e carregada de raiva.

– O que você acha? – respondeu o homem ao seu lado.

A mulher resmungou exasperada, mas Zero não ligou, seus músculos tremiam tanto que ele chegou a pensar que estava tento uma convulsão. Àquela altura, ele já tinha perdido a sensibilidade nos dedos das mãos.

Sua hora chegou, pensou. Sua vida passou diante de seus olhos; como sua irmã costumava testá-lo com o arco. Lembrou-se de uma vez em que ela jogava uma maçã para cima quando ele tinha acabado de pegar no arco depois de terem brigado, desafiando-o a acertá-la antes que caísse no chão.

Seu corpo foi esquentando confortavelmente e ele pensou que talvez finalmente tivesse morrido. Seus músculos pararam de se retrair, aproveitando o calor. Seu coração diminuiu o compasso e ele sentiu seus dedos novamente. Seus pulsos, em carne viva por conta dos grilhões, pararam de arder repentinamente. Seus pés tinham pústulas, mas por conta da dormência ele não conseguia sentir os machucados havia muito tempo. Voltou a senti-los agora, mas não doíam.

Zero parecia ter entrado em algum estado de transe, pois tinha se desligado totalmente da realidade, assustado demais com o que estava sentindo. Voltou a sentir certas partes do corpo, seus músculos não doíam tanto. Só percebeu que o homem estava curando-o quando começou a sentir o frio novamente. Mas de uma forma estranha, ele se sentia um pouco mais forte.

Não soube dizer quanto tempo tinha se passado. Não podia ouvir vozes nitidamente, todas ecoavam muito como se estivessem muito longe. Era como se estivesse anestesiado.

Estava coberto com uma manta fina quando começou a ser carregado de novo. Para onde, ele não tinha a menor ideia. Pararam durante algum tempo, conversaram, mas Zero não prestava atenção na conversa, até que ouviu o nome de Ivan.

Pelo que entendera, o grupo procurava por Ivan e seus companheiros, estavam decidindo para onde iriam agora. O objetivo deles, na verdade, era tirar informações de Ivan e talvez matá-lo depois, soltar os prisioneiros não estivera nos planos.

Caminharam durante mais algum tempo. A guerra ainda acontecia á sua volta, mas agora eles pareciam estar chegando a um lugar um pouco afastado de todo o caos.

Então ele ouviu palmas, enfáticas e pausadas. Irônicas.

– Muito bem – seus músculos paralisaram quando ele reconheceu a voz.

Era Ivan e, conhecendo-o, ele não estava sozinho. Soubera que Ivan andava com um clérigo de Keen, o deus da guerra, um elfo e um gigante. Mesmo que aquele grupo tivesse conseguido invadir a masmorra, libertar os prisioneiros e deter um destacamento Yudeniano, ele duvidava que conseguissem se livrar de Ivan e seus fiéis companheiros.

Antes que percebesse estava no chão de novo. Talvez fosse pior ser inútil contra Ivan do que contra os Yudenianos. Talvez os soldados ainda fossem um pouco sensíveis – embora ele achasse bem improvável – mas Ivan era uma coisa totalmente diferente. O elfo, aquele elfo não tinha piedade alguma.

Ouviu a troca de ameaças e as bravatas marotas que foram trocadas. Notou que o homem novamente não se juntou a luta, ele ficou ao seu lado. Quando seu corpo começou a esquentar, percebeu que seu salvador dera as costas á luta para curá-lo novamente. Quis protestar, mas desistiu quando a dor veio.

Muitos podem pensar que o processo de cura é indolor, mas Zero aprendeu que era o contrário e da pior maneira. De fato, em toda sua vida, nunca tinha recebido uma cura divina, na verdade nunca precisara de uma. As pessoas pensavam que a cura vinha lenta e calmamente, como o frio vindo do norte, mas estavam enganados.

Ouviu um estalo alto, duas vezes seguidas, e uma dor aguda lhe subiu pelas pernas. Era como se uma mão gigante, nada gentil, tivesse forçado os ossos quebrados de volta em seu devido lugar. Um formigamento começou em sua língua e, antes que pudesse terminar de gritar, se intensificou e logo era como se um formigueiro estivesse fervilhando dentro de sua boca. Não era exatamente doloroso, mas incomodava, era como se bolhas estivessem surgindo de repente, aumentando, aumentando.

Conseguia ouvir o homem rezando, vagamente. Enquanto gritava assustado ao sentir sua língua crescer milagrosamente dentro da boca. De fato, ele quase se engasgou com ela. Tinha sua língua novamente, inteira e em perfeito estado. Tentou dizer alguma coisa, mas era como se precisasse reaprender a usá-la.

Seus órgãos esquentaram de uma maneira estranha e reconfortante, o calor era renovador, subiu por sua espinha e se espalhou mais rapidamente por sua cabeça e sentiu suas pálpebras esquentaram de um modo estranho. Sentiu uma mão pousar em seu rosto e a reza se tornou mais alta e veemente.

Quando a mão se afastou, pela primeira vez, Zero não estava no escuro. Enxergava, mas não como antes. Via fogo, calor.

Estava assustado demais para ter alguma reação, achava que talvez estivesse tendo alucinações devido a todo estresse.

Duas mãos de fogo pairavam sobre seu corpo. Franziu a testa dolorosamente quando distinguiu o rosto do homem que o salvara. Era como se estivesse míope, as feições não eram exatas, pareciam não entrar em foco nunca, assim como o fogo agitado. Seu coração batia fortemente contra as costelas. Poderia ser Thyatis? O deus da ressurreição o tinha salvado? O que fizera para merecer ser salvo por uma divindade? Tentou piscar, mas não conseguiu, porque na verdade seus olhos não tinham crescido novamente, como sua língua, no entanto ele podia ver sem abrir os olhos. Enxergava com o olho divino.

Tentou pensar racionalmente e olhou novamente para o homem. Conseguiu ver os olhos, o nariz e a boca, nunca muito definidos, mas ele tinha certeza que o deus da ressurreição na tinha orelhas daquele tamanho; aquilo eram orelhas de elfo.

Olhou em volta, testando a nova visão. Estavam longe da confusão no centro do vilarejo, mas ainda era possível ouvir os gritos de guerra. O homem ao seu lado se movimentou, levantando-se cambaleante e meio ofegante por conta de toda a energia usada para curá-lo.

Zero finalmente lembrou-se de agradecê-lo, mas quando abriu a boca ele já tinha lhe dado às costas.

Seguiu o olhar para onde o homem estava indo. Agora via que o grupo era grande, eram seis, sete, contando com ele mesmo.

Alguém tampava a luz do sol, Zero ergueu o olhar e viu o gigante. Já ouvira falar nele e, mesmo que não pudesse vê-lo nitidamente, não deixava de ser assustador.

Por um lado, ele queria lutar, mas os 80% restantes de seu cérebro gritavam dizendo que ele não estava em condições para isso. Se ao menos tivesse seu arco e flecha.

Agarrou-se à manta que lhe cobria. Ainda tremia, mas agora ele tinha certeza que não era por causa do frio. Zero podia ver a desenvoltura que aquelas seis pessoas tinham. Três lutavam contra o gigante.

Havia mais uma pessoa, mais perto dele, que mantinha distância da batalha e fazia alguns gestos com as mãos. Zero sobressaltou quando alguém passou correndo do lado dele. Era um homem grande e, a não ser que estivesse tendo alucinações, ele tinha asas. Zero nunca tinha visto um angelo, mas considerou que aquele fosse um.

Acompanhou quando o homem abriu as asas e voou facilmente por cima da confusão. Zero viu quando ele mergulhou e conseguiu ver uma figura mais ao fundo do lado oposto, logo no fim da rua. Seu coração foi parar na garganta quando ele pensou que fosse o elfo, mas não viu nenhum sinal do arco que ele usava. Assistiu de boca aberta quando viu uma coluna de chamas subir, obstruindo sua visão do angelo.

O gigante rugiu e Zero, por reflexo arrastou-se para mais longe, lembrando-se de que suas pernas estavam boas novamente. Não tinha forças para levantar, não ainda. Mexia os dedos dos pés curiosamente quando sua atenção se voltou novamente para o angelo. Ele trazia seu alvo fincado em uma espada, como uma águia carregando sua presa nas garras.

O chão tremeu quando o gigante acertou o chão com toda a sua força em um soco poderoso. Podia ver sua forma enorme ajoelhada. Pelo que pôde perceber, aquela tinha sido sua última tentativa de um ataque, pois logo depois a criatura caiu imóvel, de cara no chão.

Uma seta se fincou a poucos metros a frente de seus pés. Olhou para a esquerda e lá estava ele, o maldito elfo. Apertou o maxilar, borbulhando de ódio, Zero vira aquele elfo fazer coisas hediondas. Arrastava inocentes pelas ruas, matava sem pensar duas vezes, torturava e chacinava enquanto sorria.

O homem que estava mais perto de si – agora ele sabia que era um mago – movia as mãos e fazia movimentos complexos com sua lança.

Não soube como, mas o mago conseguira controlar o elfo com algum tipo de teia que saía da ponta de sua lança, envoltas em chamas quase imperceptíveis. Olhou de um para o outro, sem acreditar no que via. Um corpo caiu ao seu lado fazendo um barulho enjoativo quando atingiu o chão e agora ele foi forçado a se levantar, mantendo a manta sobre os ombros, olhando assustado para a figura no chão. Era o clérigo de Keen, ao julgar pelo símbolo no peitoral da armadura, agora aberto em uma fenda horrenda.

Ouviu o grito agoniado do elfo e Zero desviou seus olhos para olhá-lo, já estava horrorizado, não podia ficar pior.

Mas ele estava enganado.

O elfo se contorcia e gemia enquanto tentava se livrar das teias. Zero achava que ele tinha finalmente desistido de lutar quando caiu no chão.

Mas ele não podia estar mais errado.

Mesmo não estando tão perto assim, ele podia ver o elfo tremer. Ele pareceu crescer de tamanho em muito pouco tempo e suas roupas começaram a rasgar, estourando a costura. De seu lado esquerdo, algo crescia para fora das costelas. Um terceiro braço. Logo Zero pôde ver as quelíceras pinçando o ar. Não via cores, mas sabia qual era a cor da Tormenta. Agora estava explicado porque o elfo era tão forte. Ele fora corrompido pela Tormenta e agora estava se transformando em uma criatura horrenda.

Seu estômago deu voltas e a bile queimou sua garganta. Ele já ouvira falar em criaturas da Tormenta. Era demônios que até os demônios temiam, criaturas de outro mundo, tão feias que eram capazes de levar homens á insanidade apenas por estarem presentes. O cérebro simplesmente não era capaz de aceitar uma coisa tão…errada quanto aquela. E agora Zero sentia o efeito da loucura atuando em seu corpo.

Tentou não entrar em pânico, mas o ar em volta dele havia mudado, todos estavam sob o efeito do horror que era aquela criatura. A carapaça era extremamente dura, praticamente impenetrável, qualquer homem que tentasse lutar contra aquilo, teria que lutar também contra a insanidade. Zero só não vomitou porque não tinha nada do estômago, mas podia sentir a garganta queimada por conta do ácido do estômago.

Lutou contra a vontade de gritar e desviou o olhar para o mago. Ele não tinha caído, não tinha perdido o controle, mas Zero não podia mais ver as teias que antes controlava o elfo corrompido. Controlou a ânsia quando olhou novamente para a criatura. Ele parecia estático, ajoelhado no chão. Tremia.

Novamente, Zero quase foi derrubado no chão quando alguém trombou nele, alguém com uma capa muito familiar.

Equilibrou-se sobre as pernas curadas. Estava pronto para gritar, avisando que o homem estava fugindo. Viu de relance a capa de Ivan antes que algumas pessoas do grupo de aventureiros pulassem em cima dele.

– Ah, não vai não! – ouviu uma voz de mulher gritar no meio da bagunça.

Quando o grupo se levantou, Ivan estava com os braços presos atrás das costas. Zero aproximou-se devagar, acanhado e curioso ao mesmo tempo. Não podia acreditar que alguém tinha conseguido pegar Ivan.

– Você vai responder algumas perguntas, maluco! – gritou um homem, o tom desvairado e ao mesmo tempo zombeteiro. Tinha um machado duplo amarrado às costas. Não parecia nada abalado com a luta que acabara de se passar.

Uma mulher grande, muito grande, forçou Ivan a se levantar e o empurrou para frente, de volta para o centro do vilarejo.

N.A: Continua (em um próximo post mesmo, hehe).

Se você odeia cliffhangers… Well, let the haters hate.

Nerd: Beatriz Napoli

Devoradora de livros, publicitária apaixonada, tem dois pés esquerdos e furtividade 0 para assaltar a geladeira de madrugada. Se apaixona por personagens fictícios com muita facilidade, mas não tem dinheiro para pagar o psiquiatra que obviamente precisa.

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