Em “A Sangue Frio”, Capote instiga talentosamente a curiosidade do leitor

 Estamos nas últimas páginas do primeiro capítulo, “Os últimos a vê-los vivos”, quando descobrimos sobre o assassinato dos Clutter como fato principal do livro-reportagem de Truman Capote. Isso é tudo que importa. Tudo, fora descobrir o autor de uma tremenda barbárie e suas motivações. O fato é também que os detetives encarregados do caso ocorrido em Holcomb sabem, assim como seus cidadãos.

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Capa da última edição lançada no país

 Baseado em um assassinato brutal registrado em 15 de Novembro de 1959 contra quatro membros de  uma família de Holcomb, cidade então com 270 habitantes, localizada no interior do estado do  Kansas,  “A Sangue Frio” (In Cold Blood, 1966) é uma verdadeira obra do jornalismo-literário, que  não surpreende com seus acontecimentos, mas instiga e brinca com a curiosidade de seu leitor.

 A tragédia, amplamente repercutida na época em que se sucedeu, ganhou grandes proporções e chocou  pessoas de todo o mundo, o que impossibilitou uma abordagem que revelasse novidade. Assim, Capote  optou por remeter à sensação de tempo presente para que a jornada por ele narrada- fosse  acompanhada de perto por aqueles que a lêem.

 Em quatro capítulos, o livro reconta minuciosamente os acontecimentos desde os planos iniciais até a  condenação dos assassinos. Com pouco distanciamento, cria um ambiente íntimo que suga o leitor para  dentro da trama e faz com que a história e os personagens, como reais conhecidos, despertem  sentimentos durante a leitura.

 O exemplo disso, logo nas primeiras páginas, é quando se conhece a pacata Holcomb, seca, de belezas  precárias e um pouco mal cuidada; os Clutter, Herbert, Bonnie, Nancy e Kenyon, uma família  religiosa, generosa, reconhecida e respeitada pela comunidade; seus assassinos, Perry e Dick,  sujeitos de caráter duvidoso e sem motivos aparentes, fora suas más escolhas, para fazerem o que  planejavam; e outros cidadãos.

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Truman Capote

Conhece-se suas rotinas, problemas, gostos, desgostos, manias e amores; o leitor lê seus diários; aprendemos sobre seus trabalhos, angústias e personalidades. Torce para que Nancy e Bobby possam ficar juntos; que Bonnie supere a depressão; e que Dick e Perry mudem de ideia. Mesmo com o avançar dos capítulos e as mudanças que representam no decorrer do caso, a sensação não desvanece, só muda o objeto de afeto.

Nem a longa extensão dos capítulos, que tinha tudo para tornar a leitura maçante, se concretiza por conta do teor aplicado a obra. O único problema presente está nos diálogos, que como todo o restante é extremamente detalhista, algo impossível para a época em que o livro foi escrito, já que não existiam equipamentos de gravações e as informações por Capote adquiridas foram divulgadas por pessoas envolvidas ou próximas às vítimas.

No entanto, apesar de ser uma característica incoerente ao gênero de livro-reportagem e das críticas geradas por tal aspecto, tais observações não tiram os créditos da obra. Na verdade, o livro é recomendável a todos os fãs de literatura. O livro, intrigante e cativante, mostra as conseqüências geradas pela ganância do homem.

 

A SANGUE FRIO

AUTOR Truman Capote

TRADUÇÃO Sergio Flaksman

EDITORA Companhia das Letras

ANO 2003

PREÇO de 46,00 a 70,00 reais, em lojas virtuais.

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Nerd: Ana Giese

A louca com compulsão obsessiva em comprar livros e estudante de jornalismo! Que ama Harry Potter, se apaixona constantemente por personagens fictícios e passa 14 horas assistindo Netflix. Pelo menos sabe precisar de uma visitinha ou duas ao psicólogo!!

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