Dumplin’: Cresça e apareça. Faça e aconteça!

“Mas essa sou eu. Gorda. Não é nenhum insulto. Pelo menos não quando eu digo. Por isso, sempre me pergunto: por que não chutar logo de uma vez para longe essa pedra do caminho?”. Acabo a leitura de Dumplin’ ainda marcada por esse trecho. Na verdade, não só por ele, mas por tantos outros.

Mas por esse em especial, porque carrega em si um significado a mais do que o que lhe foi empregado quando acrescido a obra. Um que representa quase em totalidade a mensagem que a autora Julie Murphy construiu ao longo do livro. 

E ao contrário do que pode parecer, a mensagem não é nada como seu sentido literal. O conselho amigável de que se aceitarmos o corpo que temos e não pensarmos nele de forma insultuosa, ele assim deixará de ser. Não, a mensagem é única e clara, e através dela somos informados de que não há maneira de seu corpo possa ser um insulto. Seja ele representado por suas palavras ou pelas de outras pessoas.  

Mas a crença na ideia de que ele seja? Essa sim é a pedra que nos impede de seguir caminhando, e se você não pensa assim, acredito que seja necessária a leitura de Dumplin’.

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Willowdean Dickson (apelidada de Dumplin’ pela mãe, uma ex-miss) convive bem com o próprio corpo. Na companhia da melhor amiga, Ellen, uma beldade tipicamente americana, as coisas sempre deram certo… até Will arrumar um emprego numa lanchonete de fast-food. Lá, ela conhece Bo, o Garoto da Escola Particular… e ele é tudo de bom. Will não fica surpresa quando se sente atraída por Bo. Mas leva um tremendo susto quando descobre que a atração é recíproca. Ao contrário do que se imaginava – a relação com Bo aumentaria ainda mais a sua autoestima –, Will começa a duvidar de si mesma e temer a reação dos colegas da escola. É então que decide recuperar a autoconfiança fazendo a coisa mais surreal que consegue imaginar: inscreve-se no Concurso Miss Jovem Flor do Texas – junto com três amigas totalmente fora do padrão –, para mostrar ao mundo que merece pisar naquele palco tanto quanto qualquer magricela.

Começo dizendo que Willowdean não é a típica protagonista de romances. E dito isso, deixo claro que sua aparência não é o motivo para tal característica. O que faz de Will uma atípica protagonista é o fato de ela ser uma menina fora dos padrões de beleza “convencionais”, mas que não dá a mínima importância a esse detalhe, pelo menos não desde o início. 

E exatamente nesse aspecto que a mágica, embrulhada em uma bela e representativa capa, de Dumpli’n – o livro que veio para representar de forma extremamente realista os lemas vividos por uma jovem menina gorda, em específico, as que se aceitam, e o processo diário que a autoaceitação requer. Porque mesmo que seja feliz em seu corpo, em algum momento a sociedade irá fazer você reconsiderar – acontece.

“Mamãe tem razão. Nunca vou ser feliz com este corpo. Não plenamente. Nunca vou confessar isso em voz alta, mas ela tem razão. […]”

Com curtos capítulos, elementos e palavras simples, além de muita Dolly Parton, Julie Murphy deu, com maestria, vida a uma obra tocante e reflexiva. Uma história que representa – mesmo que infimamente – não só os jovens, mas todos os indivíduos que já duvidaram da beleza de seus próprios corpos apenas por eles não se encaixarem nos padrões.

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Através de Will e de sua própria vida, a autora mostra as dificuldades de uma menina gorda em realizar atividades comuns como frequentar uma piscina pública, conhecer novas pessoas e caminhar para os primeiros relacionamentos amorosos.

A preocupação e os pensamentos que implicam essas atividades, o medo de o que as pessoas podem estar pensando, olhando ou dizendo. Os dilemas e inúmeras sensações que o toque de um garoto pelo qual se sente atraída pode causar. A alegria exultante e a vergonha incontrolável.

E de seus personagens secundários, as pessoas com quem essa menina necessitará lidar ao longo de sua vida, os que tornam as coisas mais difíceis. Os que com suas atitudes e opiniões moldarão todas as suas escolhas, se ela permitir.

O livro é uma longa encarada no espelho para todos que o leem, uma um pouco mais dolorosa para aqueles que se identificam com Will, porque também nunca estiveram dentro dos padrões, e pouco mais reflexivas para os que os magoaram no decorrer do caminho. No entanto, igualmente educativa para todos.

Mas acima de qualquer coisa, inspirador, porque se há algo em toda a história de Willowdean que nunca iremos esquecer, é que o meu, o seu, o nosso corpo é lindo e normal. E se as circunstâncias e inseguranças fizerem com que esqueçamos, devemos vestir nosso melhor vestido e nos candidatarmos a misses.

 

DUMPLI’N

AUTOR Julie Murphy;

TRADUÇÃO Heloísa Leal;

EDITORA Valentina;

ANO 2017;

PREÇO entre 28,00 a 40,00 reais.

 

PS: Editora Valentina, obrigada pela oportunidade de conhecer esse livro maravilhoso!

Nerd: Ana Giese

A louca com compulsão obsessiva em comprar livros e estudante de jornalismo! Que ama Harry Potter, se apaixona constantemente por personagens fictícios e passa 14 horas assistindo Netflix. Pelo menos sabe precisar de uma visitinha ou duas ao psicólogo!!

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