Desvendando os Clássicos 03 | Primavera nos Dentes (Secos & Molhados)

 

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Estamos de volta com mais uma edição de Desvendando os Clássicos, desta vez para falar sobre uma das maiores gravações da história da música brasileira, Primavera nos Dentes da banda Secos & Molhados. A música integra o primeiro e melhor disco da banda, lançado em 1973 com o nome homônimo. Secos & Molhados foi uma banda de vida rápida e sucesso estrondoso. Surgiu no ano de 71, mas teve uma mudança de componentes até chegar à formação clássica com este álbum em 1973 e lançou apenas mais um, no ano seguinte, antes da banda se desfazer por brigas internas. A formação clássica tinha Ney Matogrosso nos vocais, João Ricardo nos vocais, violão e gaita e Gerson Conrad nos vocais e violão. Na capa do álbum de estreia vemos também o baterista Marcelo Frias. O sucesso do disco de estreia foi absurdo, sendo até hoje um dos discos brasileiros mais vendidos de todos os tempos, o sucesso de crítica acompanhou o de público e este também é considerado um dos melhores discos de todos os tempos (eu o considero o melhor disco da música brasileira). Com uma mistura bem balanceada de poesia (boa parte das letras eram adaptações de poemas), rock, tropicalismo e gêneros mais tradicionais, o álbum é curtíssimo (apenas meia hora) e é uma das mais intensas experiências musicais que você poderá ter.

 

 

Primavera nos dentes é a última música do Lado A do disco e é também a música mais longa, com 4min e 50 seg de duração. A maior parte é de um instrumental lindíssimo conduzido principalmente pelo piano de Emílio Carrera, pela guitarra de John Flavin e pelo sintetizador de Zé Rodrix, músicos convidados na gravação do disco. A letra entra apenas aos 2 min e 54 seg com os três vocalistas cantando junto de maneira sutil e calma, a única exceção é no final do último verso, aos 3 min e 55 seg, quando Ney Matogrosso entoa um grito. Após isso a música volta a ser instrumental até o seu final.

A composição da melodia é de João Ricardo, mas a letra é a adaptação de um poema de seu pai, João Apolinário e podemos claramente interpretá-la como libelo contra a ditadura militar:

 

Quem tem consciência para ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa a contra-mola que resiste

Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade, decepado
Entre os dentes segura a primavera

 

A letra toda faz uma exposição de quem é corajoso o suficiente para se rebelar contra as injustiças (Quem tem consciência para ter coragem). No verso “Quem tem a força de saber que existe” o eu-lírico reforça a despersonalização que a ditadura causa e a necessidade de saber-se um ser único, pois é dentro de si que se percebe a força de resistir contra o que está errado (E no centro da própria engrenagem/inventa a contra-mola que resiste). Depois o eu-lírico reforça as pessoas que conseguem superar as adversidades pra continuar na luta (quem não vacila mesmo derrotado/quem já perdido nunca desespera) pra concluir com uma mensagem ao mesmo tempo triste mas otimista, de estar no fundo do poço mas ainda assim ter dentro de si o sonho de tempos melhores (entre os dentes segura a primavera). E é neste verso que ocorre a quebra do ritmo lento da canção pelo grito agudo e estridente, grito que simboliza a revolta, os sentimentos reprimidos, a necessidade de se libertar e ir em frente.

 

Lista das edições de Desvendando os Clássicos

01 – Acorda Amor (Chico Buarque)

02 – Jeremy (Pearl Jam)

 

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Nerd: Arthur Malaspina

Arthur Malaspina é professor de português, nerd irrecuperável e humorista ocasional. Também não consegue se manter longe de discussões, seja na vida real, seja na internet. Tem opinião formada sobre praticamente tudo no mundo... mas não se preocupem, fica mais legal com o tempo. Co-proprietário do blog Han Atirou Primeiro (hanatirouprimeiro.blogspot.com.br). Twitter: @arthurskywalker

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