Em 2014 o cinema brasileiro estava em alta, sobretudo com as comédias nacionais. Filmes como De Pernas Pro Ar, Até Que a Sorte nos Separe e Minha Mãe é Uma Peça, entre outros, se configuravam entre as maiores bilheterias para o nosso cinema.
A crítica torcia o nariz, o público adorava, mas não se pode deixar de valorizar o grande público indo ao cinema e prestigiar o cinema brasileiro.
Mas em uma parte a crítica tem razão: a maioria desses filmes falam sobre a sociedade, costumes e moda da época e boa parte deles ficaram datados. Acha exagero? Tente assistir Até que a Sorte nos Separe hoje e vai parecer um filme do século passado.
Mas, além de tudo isso, o ano de 2014 ainda tinha mais um acontecimento importante: era ano de eleições. O país ainda vivia sob os efeitos dos protestos do ano anterior, o ambiente era hostil, sobretudo nas redes sociais e parecia uma prévia de que o pior estava por vir.
Neste cenário estreava nos cinemas a comédia O Candidato Honesto, com Leandro Hassum. O filme foi uma das maiores bilheterias daquele ano, mas teve diversas críticas, sobretudo porque não trazia nada de novo do que o público sabia sobre política, além de ser oportunista, colocando o sentimento ruim com a política brasileira e transformando em uma comédia, o que em si é uma boa ideia, mas que não vale para o espectador pagar um ingresso vendo o que ele já assiste de graça todos os dias na televisão.
E é justamente este o problema de O Candidato Honesto 2. O filme atualiza para 2018 o sentimento de descrença que a maioria dos brasileiros está com a política e transforma em piada.
Candidato Honesto 2 tem o carisma de Leandro Hassum, faz rir, boa parte das piadas funcionam, mas não traz nada de novo: você já viu parte dessas piadas na TV ou em memes.
Após os eventos do primeiro filme, João Ernesto Ribamar, personagem de Hassum, passou 4 anos preso, emagreceu na cadeia (ótima saída para o emagrecimento do ator na vida real), mas agora está de volta à vida civil. E de volta à política? Mas como ele pode voltar à política com seu histórico e ainda tendo assumido para toda a nação que desviou dinheiro?
Os dois filmes brincam com o fato de termos um político que fala a verdade, aliás, na ocasião do lançamento do primeiro filme, muitos o compararam com a comédia O Mentiroso, com Jim Carrey.
A inspiração está clara, mas daí dizer que é cópia é exagero
E este filme, assim como o primeiro, corre o sério risco de ficar datado. Há piadas com um vice-presidente “vampiro”, uma presidente que se atrapalha nas palavras, referência a um presidente “laranja” da América do Norte, a um candidato militar de extrema direita, à operação Lava-Jato e até ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
Ou seja, nada que você não tenha visto nas redes sociais em forma de memes, quase tudo aqui é previsível.
Apenas uma cena, no terceiro ato do filme, envolvendo a ex-jornalista Amanda, que realmente provoca o espectador.
Aliás, houve troca de atriz pela personagem: agora quem interpreta Amanda é Rosanne Mulholland, que é uma boa atriz, foi a Professora Helena em Carrossel e é a única personagem bem aproveitada deste filme.
Há todo um dilema entre seguir a carreira, dinheiro ou a consciência, ou o fato de que, na política, qualquer um pode ser vendido.
O Candidato Honesto 2 apresenta uma direção no automático de Roberto Santucci, assim como o papel de Leandro Hassum, mas Rosanne ainda se esforça na sua personagem.
O filme até diverte e faz rir, o público provavelmente vai sair da sessão com um sorriso no rosto, se sentirá representado em tela com o sentimento de insatisfação com a política.
Mas não temos isso de graça todos os dias?
