Atypical e o Que Significa Ser Uma Pessoa Normal?

Mais uma produção original Netflix chegou ao serviço de streaming na última sexta (11) e é um grande e emocionante acerto. Adequada ao gênero proposto (algo entre o drama com um toque do cômico) com um tempo por episódio de em média 32 minutos, a série reforça a qualidade e o cuidado do canal com seus originais.

Atypical é uma história de amadurecimento que acompanha Sam, um garoto autista de 18 anos em busca de amor e independência. Sua engraçada, porém, difícil jornada rumo ao autoconhecimento deixa sua família de pernas para o ar, forçando todos a lidar com a evolução de Sam em suas próprias vidas enquanto enfrentam o tema central da série: o que significa ser uma pessoa normal?

Como começar a falar sobre Atypical? É uma experiência e tanto assistir o programa. Pessoalmente, não conheço pessoas inseridas na realidade do autismo.  Não sei como são os indivíduos diagnosticados com o transtorno ou como é a vida deles fora da ficção, mas imagino que é um universo complexo e vasto.

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A série é competente em mostrar essa complexidade. Sam tem dificuldade de entender alguns sentimentos, algumas expressões que usualmente são faladas, como por exemplo, piadas, e de ser tocado de algumas maneiras. Alguns episódios retratam muito bem essa dificuldade com o toque, como quando Sam expressamente diz se sentir incomodado quando as pessoas o tocam sutilmente e quando o pai, Doug, diz que pela primeira vez o filho o abraça por iniciativa própria.

Também é notável como a família de Sam se sente em relação a ele. E em como o fato de estar amadurecendo e querer namorar, por exemplo, sugerem grandes mudanças em uma rotina previamente estabelecida no núcleo familiar. Antes, Elsa, mãe de Sam sabia suas funções e quando o filho precisaria dela e quando isso começa a mudar, ela se vê em um momento de crise e entra em uma jornada própria de autodescobrimento. Casey, irmã do garoto, tem conflitos entre exercer seu papel de irmã e ter seu espaço dentro do contexto familiar, onde suas conquistas e desafios por vezes são pormenorizados, mesmo que sem querer, em relação à atenção que Sam demanda. Doug, o pai, se esforça para se envolver na vida do filho, está acostumado a ser deixado de fora, mas consegue estabelecer uma relação mais próxima dele, quando aceita o amadurecimento e tenta ajudá-lo com o desejo de querer namorar.

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Com a história e o roteiro assinados por Robia Rashid (How I Met Your Mother e Will & Grace), Atypical tem um texto muito bom e recursos, como a narração do próprio personagem principal, que funcionam com coerência e ajudam o espectador a entrar no mundo de Sam. É por meio dessas narrações que se consegue ouvir o que ele está sentindo ou como está percebendo determinada situação. Os recursos visuais utilizados para demonstrar momentos de crise ou situações particulares do personagem são bem executados e funcionam como um suporte para a linguagem verbal e a caracterização dos sentimentos e reações de Sam.

O elenco encarna os personagens de maneira honesta e orgânica, trazendo verossimilhança aos conflitos de cada um. Sam é interpretado por Keir Gilchrist (United States of Tara), e dá um verdadeiro show de atuação com expressões faciais e corporais que incorporam bastante verdade ao personagem. Mesmo em cenas muito difíceis, Keir atua com excelência. A mãe de Sam é vivida por Jennifer Jason Leigh (Os Oito Odiados), que com maestria coloca em contexto uma mãe dedicada em um momento de crise de identidade. Doug é o pai da família e ganha vida pela atuação de Michael Rapaport (Prison Break). Brigette Lundy-Paine (Margot vs Lily e The Glass Castle) interpreta com bastante veracidade Casey, a irmã de Sam. Vale uma ressalva ainda para os personagens coadjuvantes que funcionam e enriquecem a gama de personagens da série.

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Atypical tem muitos pontos positivos, arcos dramáticos simples, porém intrigantes e um gancho interessante para a segunda temporada. Talvez, o ponto alto da série sejam os personagens, suas histórias, relações e características.  Com um assunto relevante e bem explorado, Atypical é muito emocionante e merece ser assistida.

Nota-do-crítico-5

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Nerd: Gabryel Oliveira

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